segunda-feira, 7 de março de 2011

O que para um homem pobre é um problema, para o rico é um investimento livre de riscos


Certo dia perguntei pra um renomado economista, pelo seu Blog, sobre o que ele achava da a administração da mineradora Vale?


-"Caótica" - ele definiu em apenas uma palavra a gestão da empresa "Brasileira".


Complementando a resposta, ele escreveu mas algumas palavras que me pareceram, naquele momento, meio evasivas. Abaixo a resposta completa:


"Bom, o mundo é uma enorme bolha, irá explodir novamente.
O homem (e seus conceitos) piora dia sim e no outro dia também.
Como não refletir na economia?
Mas a Vale vende para outros, CHINA não é exclusiva.
E, por ordens do LULA, começa a investir em outras coisas, no Brasil.
Acho caótica sua administração, enfim.
Mas…. não morrerá enquanto formos o que somos como sociedade… ou seja, NADA!"
Na verdade sempre admirei sua opinião e visito seu Blog diariamente, mas, as vezes, acho que ele exagera e é um tanto quanto radical em alguns aspectos. Muitos o define como um "pessimista".
"Radical" ou "pessimista" de uma certa forma ele tem razão.
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Por John Vidal
Especuladores da fome fazem preço dos alimentos aumentar
Os mesmos bancos, fundos de investimento de risco e investidores que especularam nos mercados financeiros globais, causando a crise das hipotecas sub-prime, são responsáveis pela inflação no preço dos alimentos. Por John Vidal.
Há pouco menos de três anos, as pessoas da vila de Gumbi, no oeste de Malawi, passaram por uma fome inesperada. Não como a de europeus,que pulam uma ou duas refeições, mas aquela profunda e persistente fome que impede o sono e embaralha os sentidos e que acontece quando não se tem comida durante semanas. Estranhamente, não houve seca, a causa tradicional da mal nutrição e fome no sul da África, e havia bastante comida nos mercados. Por uma razão não óbvia o preço de alimentos básicos, como milho e arroz, havia quase dobrado em poucos meses. Não havia também evidências de que os donos de mercados estivessem a fazer estoque de comida. A mesma história repetiu-se em mais de 100 países em desenvolvimento.
Houve revolta por causa de comida em mais de 20 países e os governos tiveram que banir a exportação e subsidiar fortemente os alimentos básicos. A explicação apresentada por especialistas da ONU em alimentos era de que uma “perfeita” conjunção de factores naturais e humanos se tinha combinado para inflar os preços. Produtores dos EUA, diziam as agências da ONU, tinham disponibilizado milhões de acres de terra para a produção de biocombustíveis; os preços de petróleo e fertilizantes tinham subido intensamente; os chineses estavam a mudar de uma dieta vegetariana para uma baseada em carne; as secas criadas por mudanças no clima estavam a afectar grandes áreas de produção.
A ONU disse que 75 milhões de pessoas se tornaram mal nutridas em função do aumento de preços. Mas uma nova teoria está a surgir entre economistas e comerciantes. Os mesmos bancos, fundos de investimento de risco e investidores cuja especulação nos mercados financeiros globais causaram a crise das hipotecas de alto risco (sub-prime) são responsáveis por causar as alterações e a inflação no preço dos alimentos. A acusação contra eles é que, ao se aproveitar da desregulamentação dos preços dos mercados de commodities globais, eles estão a fazendo biliões de lucro com a especulação sobre a comida e a causar miséria ao redor do mundo.
Conforme os preços sobem além dos níveis de 2008, fica claro que todos estão agora a ser afectados. Os preços da comida estão a subir até 10% por ano no Reino Unido e na Europa. Mais ainda, diz a ONU, os preços deverão subir pelo menos 40% na próxima década. Sempre houve uma modesta, mesmo bem-vinda, especulação nos preços dos alimentos e tradicionalmente funcionava assim. O produtor X protegia-se contra o clima e outros riscos vendendo a sua produção antes da colheita para o investidor Y. Isso garantia-lhe um preço e permitia-lhe planear o futuro e investir mais, e dava ao investidor Y um lucro também. Num ano ruim, o fazendeiro X tinha um bom retorno. Mas num ano bom, o investidor Y se saía melhor.
Quando esse processo era controlado e regulado, funcionava bem. O preço da comida que chegava ao prato e ao mercado de alimentos mundial ainda era definido por reais forças de oferta e procura. Mas tudo mudou no meio dos anos 1990. Na época, após um pesado lóbi de bancos, fundos de investimento de risco e defensores do “mercado livre” nos EUA e no Reino Unido, as regulamentações no mercado de commodities foram abolidas. Contratos para comprar e vender alimentos foram transformados em “derivados” que poderiam ser comprados e vendidos por negociantes que não tinham relação alguma com a agricultura. Como resultado, nascia um novo e irreal mercado da “especulação de alimentos”.
Cacau, sumos de fruta, açúcar, alimentos básicos e café agora são commodities globais, assim como o petróleo, o ouro e os metais. Então, em 2006, veio o desastre das hipotecas podres e os bancos e especuladores correram para jogar os seus biliões de dólares em negócios seguros, alimentos em especial. “Nós notámos isso [especulação de alimentos] pela primeira vez em 2006. Não parecia algo importante então. Mas em 2007, 2008 aumentou rapidamente”, disse Mike Masters, gerente de um fundo no Masters Capital Management, que confirmou em testemunho ao Senado dos EUA em 2008 que a especulação estava a inflar o preço mundial dos alimentos. “Quando se olha para os fluxos, tem-se uma evidência forte. Eu conheço muitos especuladores e eles confirmaram o que está a acontecer. A maior parte do negócio agora é especulação – eu diria 70 a 80%.” Masters diz que o mercado agora está muito distorcido pelos bancos de investimentos. “Digamos que apareçam notícias sobre colheitas ruins e chuvas em algum lugar. Normalmente os preços vão subir algo em torno de 1 dólar (por alqueire). Quando se tem 70-80% de mercado especulativo, sobe 2 a 3 dólares para levar em conta os custos extras. Cria volatilidade. Vai acabar mal como todas as bolhas de Wall Street. Vai estourar.”
O mercado especulativo é realmente vasto, concorda Hilda Ochoa-Brillembourg, presidente do Strategic Investment Group de Nova York. Ela estima que a procura especulativa para o mercado agrícola de futuros tenha aumentado entre 40 e 80% desde 2008. Mas a especulação não está apenas em alimentos básicos. No ano passado, o fundo Armajaro, de Londres, comprou 240 mil toneladas – mais de 7% do mercado mundial de cacau – ajudando a elevar o preço do chocolate para o seu mais alto valor em 33 anos. Enquanto isso, o preço do café pulou 20% em apenas três dias, resultado directo de aposta de especuladores na queda do preço do café.
Olivier de Schutter, Relator da ONU para o Direito à Alimentação, não tem dúvidas que os especuladores estão por trás do aumento de preços. “Os preços do trigo, do milho e do arroz têm aumentado de modo significante, mas isso não está ligado a estoques ou colheitas ruins, mas sim a negociantes reagindo a informações e especulações do mercado”, diz ele. “As pessoas estão a morrer de fome enquanto os bancos estão a matar-se para investir em comida”, diz Deborah Doane, directora do Movimento Global de Desenvolvimento de Londres.
A FAO, organização da ONU para agricultura, mantém-se diplomaticamente evasiva, dizendo, em Junho, que: “Fora mudanças reais na oferta e procura de algumas commodities, o aumento dos preços pode também ter sido amplificado pela especulação no mercado de futuros”. A [visão da] ONU tem o apoio de Ann Berg, uma das mais experientes negociantes do mercado de futuros. Ela argumenta que diferenciar commodities dos mercados de futuro e os relacionados com investimento sem agricultura é impossível. “Não existe maneira de saber exactamente [o que está a acontecer]. Tivemos a bolha das casas e o não-pagamento dos créditos. O mercado de commodities é outro campo lucrativo [onde] os mercados investem. É uma questão sensível. [Alguns] países compram directamente dos mercados. Como diz um amigo meu. “O que para um homem pobre é um problema, para o rico é um investimento livre de riscos”.

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