sexta-feira, 4 de maio de 2012

Trevas ao meio dia



Por que a mídia nativa fecha-se em copas diante das relações entre Carlinhos Cachoeira e a revista Veja? O que a induz ao silêncio? O espírito de corpo? Não é o que acontece nos países onde o jornalismo não se confunde com o poder e em vez de servir a este serve ao seu público. Ali os órgãos midiáticos estão atentos aos deslizes deste ou daquele entre seus pares e não hesitam em denunciar a traição aos valores indispensáveis à prática do jornalismo.

Trata-se de combater o mal para preservar a saúde de todos. Ou seja, a dignidade da profissão.

O Reino Unido é excelente e atualíssimo exemplo. Estabelecida com absoluta nitidez a diferença entre o sensacionalismo desvairado dos tabloides e o arraigado senso de responsabilidade da mídia tradicional, foi esta que precipitou a CPI habilitada a demolir o castelo britânico de Rupert Murdoch. Isto é, a revelar o comportamento da tropa murdoquiana com o mesmo empenho investigativo reservado à elucidação de qualquer gênero de crime.

Não pode haver condão para figuras da laia do magnata midiático australiano e ele está sujeito à expulsão da ilha para o seu bunker nova-iorquino, declarado incapaz de gerir sua empresa.

O Brasil não é o Reino Unido, a gente sabe. A mídia britânica, aberta em leque, representa todas as correntes de pensamento. Aqui, terra dos herdeiros da casa-grande e da senzala, padecemos a presença maciça da mídia do pensamento único.

Na hora em que vislumbram a chance, por mais remota, de algum risco, os senhores da casa-grande unem-se na mesma margem, de sorte a manter seu reduto intocado. Nada de mudanças, e que o deus da marcha da família nos abençoe. A corporação é o próprio poder, de sorte a entender liberdade de imprensa como a sua liberdade de divulgar o que bem lhe aprouver. A distorcer, a inventar, a omitir, a mentir. Neste enredo vale acentuar o desempenho da revista Veja. De puríssima marca murdoquiana.

Não que os demais não mandem às favas os princípios mais elementares do jornalismo quando lhes convém. Neste momento, haja vista, omitem a parceria Cachoeira-Policarpo Jr., diretor da sucursal de Veja em Brasília e autor de algumas das mais fantasmagóricas páginas da semanal da Editora Abril, inspiradas e adubadas pelo criminoso, quando não se entregam a alguma pena inspirada à tarefa de tomar-lhe as dores. Veja, entretanto, superou-se em uma série de situações que, em matéria de jornalismo onírico, bateram todos os recordes nacionais e levariam o espelho de Murdoch a murmurar a possibilidade da existência de alguém tão inclinado à mazela quanto ele. E até mais inclinado, quem sabe.

O jornalismo brasileiro sempre serviu à casa-grande, mesmo porque seus donos moravam e moram nela. Roberto Civita, patrão abriliano, é relativamente novo na corporação. Sua editora, fundada pelo pai Victor, nasceu em 1951 e Veja foi lançada em setembro de 1968. De todo modo, a se considerarem suas intermináveis certezas, trata-se de alguém que não se percebe como intruso, e sim como mestre desbravador, divisor de águas, pastor da grei. O sábio que ilumina o caminho. Roberto Civita não se permite dúvidas, mas um companheiro meu na Veja censurada pela ditadura o definia como inventor da lâmpada Skuromatic, aquela que produz a treva ao meio-dia.

Indiscutível é que a Veja tem assumido a dianteira na arte de ignorar princípios. A revista exibe um currículo excepcional neste campo e cabe perguntar qual seria seu momento mais torpe. Talvez aquele em que divulgou uma lista de figurões encabeçada pelo então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, apontados como donos de contas em paraísos fiscais.

Lista fornecida pelo banqueiro Daniel Dantas, especialista no assunto, conforme informação divulgada pela própria Veja. O orelhudo logo desmentiu a revista, a qual, em revide, relatou seus contatos com DD, sem deixar de declinar-lhes hora e local. A questão, como era previsível, dissolveu-se no ar do trópico. Miúda observação: Dantas conta entre seus advogados, ou contou, com Luiz Eduardo Greenhalgh e Márcio Thomaz Bastos, e este é agora defensor de Cachoeira. É o caso de dizer que nenhuma bala seria perdida?

Sim, sim, mesmo os mais eminentes criminosos merecem defesa em juízo, assim como se admite que jornalistas conversem com contraventores. Tudo depende do uso das informações recebidas. Inaceitável é o conluio. A societas sceleris. A bandidagem em comum.

A velha cultura subserviente ainda persiste, mas só na cabeça dos tolos


Dilma e o porrete americano

Por PAULO MOREIRA LEITE

É possível que nem todos os leitores já tenham percebido mas a pauta principal dos repórteres que cobrem uma viagem presidencial ao exterior consiste em procurar gafes de nossos chefes de Estado.
A ideia é que os assuntos sérios e graves são uma chatice que não interessa a ninguém – visão que nem sempre é verdadeira mas tem sua base na realidade – e que as gafes são assunto com leitura garantida.
É assim desde os tempos da ditadura militar. Naquele tempo as gafes eram até uma forma de publicar uma notícia negativa sobre um regime que governava com apoio da censura prévia.
Os arroubos de vaidade da primeira-dama Dulce Figueiredo eram um prato tão saboroso que, num esforço para evitar notícias constrangedoras, o SNI cassou o passaporte do cabeleireiro que costumava acompanhá-la em viagens, alimentando os jornalistas de fofocas e episódios divertidos, além de dar um aspecto fútil às visitas.
A pauta prosseguiu nos governos civis e é possível que nenhum presidente tenha sido tratado com tantas ironias como José Sarney, que, com certo pedantismo, costumava ser ironizado por causa de seu portunhol.
No início, o monoglota Lula sofreu com comparações negativas, que procuravam exaltar o poliglota FHC. Depois se viu que mesmo em português Lula conseguia um respeito que nenhum antecessor obteve antes dele.
E Dilma?
Dilma fez uma viagem aos EUA onde não ocorreu nenhuma gafe. Isso explica a pouca atenção que recebeu por parte da maioria de nossos jornais e revistas.
É um erro, já que a visita teve pelo menos um aspecto importante. A presidente tomou iniciativas importantíssimas na área de educação, dando sequência a seu projeto de enviar milhares de estudantes para cursos de pós-graduação nas melhores universidades do planeta.
Mas foi uma viagem morna, que reflete uma realidade que nossos observadores não querem ou não conseguem admitir.
“Todo mundo queria ver Dilma menos Barack Obama,” escreveu o jornalista Jason Farago, correspondente do Guardian na capital americana, num comentário que até hoje repercute na internet.
A tese de Farago é que a viagem serviu para mostrar um vazio da diplomacia americana, que não estava preparada para a emergência de um país que já não se comporta como uma nação subalterna quando tem assuntos a tratar com Washington.
Num esforço para avaliar a visita por um ângulo menos banal, Farago descreve o esforço de várias autoridades americanas para ouvir a presidente, conhecer suas ideias e ter notícias do Brasil.
São sinais de uma nova realidade mundial, escreve, lembrando já se tornou até ridículo falar em países emergentes, considerando que são nações que já emergiram – enquanto as velhas potências ameaçam submergir em sua própria crise.
Avaliando o comportamento de Obama, Farago lembra que há um descompasso entre a realidade do mundo de 2012 e a doutrina imperial americana, que pregava que a América era um quintal dos Estados Unidos, noção que, com poucas nuances, até hoje alimenta a diplomacia de Washington.
“Nós fazíamos o que queríamos e dizíamos aos outros para não se intrometerem. A ideia de que um país latino-americano poderia servir de modelo está além de nossa compreensão. Agora, pela primeira vez, uma segunda grande potência está crescendo no pedaço, mas entre nós, gringos, os velhos hábitos do grande porrete custam a morrer.”
A conclusão não poderia ser mais realista: a grande lição da viagem de Dilma foi mostrar incapacidade do governo americano estabelecer uma política externa de acordo com os tempos atuais.
O comentário de Farago tem um mérito adicional. A postura de muitos analistas diplomáticos brasileiros é tão subordinada aos Estados Unidos que eles não conseguem sequer admitir que Washington possa cometer erros em suas análises e desvios de conduta. Se a viagem foi morna, a culpa é do governo brasileiro. Se foi uma tragédia, mais ainda.
São visões que  continuam celebrando os compromissos democráticos dos EUA embora eles tenham patrocinado o grande ciclo de ditaduras militares do continente dos anos 60 a 80. Gostam de elogiar a postura pelo livre comércio sem levar em conta que a economia americana se apóia num protecionismo amplo e vigoroso, dirigido em importações que podem concorrer com seus produtores internos. Nem o bloqueio a Cuba é condenado com a devida veemência. Não se perde uma única oportunidade para cobrar o velho alinhamento automático, sempre que surge algum arranhão no continente.
A partir de eufemismos como “investidores externos,” “imagem no exterior” e outros, as referência dessas análises é sempre uma pergunta: como os EUA vão reagir? Vamos sofrer retaliações?
Sempre que há um desentendimento entre as partes, ou mesmo um conflito, a opinião nunca se modifica. A razão está sempre do lado de lá da fronteira.
Como Obama, muitos observadores não conseguem enxergar uma mudança na realidade.
É por isso que passaram os primeiros meses do governo Dilma anunciando uma grande modificação em nossa política externa. Achavam que ela viria a partir de uma postura menos nacionalista da presidente.
A tese é que, livre do sapo barbudo e de seu ministro Celso Amorim, o  Itamaraty iria reconstruir a velha e boa amizade preferencial americana, de acordo com a máxima deixada por um dos civis do regime militar: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.”
A viagem de Dilma mostrou que Obama não tem o que oferecer, não pensou nisso e não consegue entender que isso é necessário.
Na mentalidade do porrete, do outro lado da mesma só pode sentar-se um vira-lata.
Concorda?

A essencial preparação do terreno e o sucesso


Com guerra contra os juros, Dilma busca nova marca para mandato


Por Ana Flor
A decisão do governo de forçar a queda nas taxas de juros no país -contexto no qual se insere o anúncio na mudança dos rendimentos da caderneta de poupança na quinta-feira- faz parte de uma estratégia política para criar uma nova marca da gestão da presidente Dilma Rousseff no campo econômico.
Segundo fontes do governo, o alvo dos juros bancários, tema de grande apelo entre a classe média, passou a ser considerado na medida em que a meta de crescimento de 5 por cento em 2012 ficou cada vez mais distante.
Além disso, no Planalto os bancos passaram a ser vistos como instituições que pouco colaboraram para a queda dos juros implantada pelo Banco Central desde agosto.
"É uma briga que a presidente achou por bem comprar, porque traria benefícios ao país no longo prazo", disse à Reuters uma das fontes.
Assessores do governo buscavam uma nova marca para a gestão Dilma desde o final do ano passado. O Brasil Sem Miséria, símbolo inicial e que, segundo assessores não será abandonado, atingiu pouco a classe média e ainda trazia a forte memória do governo Lula e o Bolsa Família.
No início do ano, a presidente discutiu com seus conselheiros dar maior status para a área de tecnologia e inovação, fazendo do programa Ciência Sem Fronteiras, que levará 100 mil estudantes ao exterior, uma marca do segundo ano de mandato, revelou um assessor.
Mas, além do alcance limitado do programa, pesquisas mostravam que está na economia o fator preponderante para o bem-estar da população e onde está calcada a aprovação recorde do governo, que bateu em 64 por cento em abril, segundo pesquisa Datafolha.
Lula esteve entre os entusiastas da ideia de o governo usar seu capital político e alta aprovação para promover uma mudança estrutural na economia que abrisse espaço para os juros caírem --permitindo que Dilma cumprisse promessa de campanha feita no início de 2010, quando disse que gostaria de baixar a taxa real de juros básica para "perto de 3 por cento, mas sem fazer mágica".
A equipe da presidente tem explorado uma faceta revelada ainda na campanha presidencial, quando pesquisas identificaram que eleitores viam em Dilma uma mulher ousada e corajosa.
Os bons resultados da imagem da presidente que "faxina" colaboradores envolvidos em denúncias, ou que não negocia no "toma lá, dá cá" do Congresso, deram o aval para que novas medidas de risco, como a mudança na poupança, entrassem nos planos.
A nova medida fez com que Dilma acabasse por modificar regras que seu antecessor desejou mexer, no final de governo, mas desistiu por achar o custo político muito alto.
Em 2009, já com Guido Mantega na Fazenda, Lula planejou enviar ao Congresso um projeto que taxava depósitos acima de 50 mil reais com Imposto de Renda. Desistiu, entre outros motivos, para garantir a eleição de Dilma.
Desta vez, a avaliação foi de que valia a pena pagar os custos políticos ou eleitorais de uma medida à primeira vista impopular.
Mas o governo tomou mais precauções do que de costume. O núcleo econômico fechou a proposta, mas fez o anúncio a partir de encontros em que ouviu políticos, empresários e sindicalistas, além da imprensa.
Viu-se, nos últimos dois dias, a presidente tomar mais cuidados do que costuma ter ao escolher seus ministros, trocar líderes ou diretores de estatais: consultou integrantes de governo, chamou líderes aliados, fez um agrado aos sindicatos indicando Brizola Neto como ministro do Trabalho e buscou apoio do empresariado, historicamente crítico dos juros altos.
O ministro da Fazenda trabalhou em outra trincheira: chamou um número pequeno de jornalistas para explicar as medidas, em sinal de que o governo queria evitar a repercussão negativa ou "desinformada", como classificou outra fonte do governo.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

'Novo petróleo' promete mudar mapa geopolítico da energia


Novas tecnologias para explorar petróleo e gás prometem revolucionar o mapa geopolítico da energia, segundo especialistas no setor.
Imagine um mundo em que os Estados Unidos não se importam tanto com o que acontece no Oriente Médio – porque abastecer as frotas de Nova York ou Chicago não depende de um combustível vindo do Iraque ou da Arábia Saudita. O poder da influente Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) está esvaziado. A Europa não precisa do gás russo e a China não está tão preocupada em financiar regimes africanos para garantir sua fatia da produção local de combustíveis fósseis.

Eles apontam que não só as fontes de petróleo e gás não devem se esgotar em um futuro próximo – como previam estudos proféticos das últimas décadas –, como a distribuição geográfica das novas reservas é muito mais democrática, o que favorece grandes consumidores.É mais ou menos esse o cenário de médio prazo pintado por consultorias e especialistas entusiasmados com novas tecnologias, que permitem a exploração de reservas de gás e petróleo de difícil acesso ou cujo produto precisa passar por processos químicos específicos antes de ser utilizado. São os chamados combustíveis fósseis "não convencionais".
"Até pouco tempo, eram dominantes as previsões de que os países importadores aumentariam sua dependência do Oriente Médio e não haveria solução para altos preços do petróleo", diz o geólogo e economista Robin Mills, autor do livro O Mito da Crise do Petróleo (The Mith of the Oil Crisis) e consultor em Dubai.
"Com os avanços tecnológicos dos últimos anos, ganham força expectativas de que, ao menos no médio prazo, os preços dos combustíveis fósseis voltem a cair, países que eram importadores de recursos energéticos se tornem autossuficientes ou até exportadores e a OPEC seja mais pressionada a revisar suas práticas", disse à BBC Brasil.
São muitas as tecnologias que estão ajudando a traçar um novo mapa da energia no mundo. A começar pelas que permitem a exploração de petróleo em águas profundas – caso do pré-sal brasileiro. Outro exemplo é o aproveitamento do petróleo arenoso – encontrado em Alberta, no Canadá – também só é possível graças ao aprimoramento de processos físicos e químicos que purificam esse petróleo de baixa qualidade.
A técnica que mais desperta entusiasmo, porém, é de longe a relacionada à exploração do petróleo e, principalmente, do gás de xisto, obtidos a partir da rocha de mesmo nome. Segundo o especialista do mercado de petróleo Daniel Yergin, trata-se da maior invenção da área de energia da década.

Em centros de estudos e consultorias especializadas, o termo "revolução do gás de xisto" já virou corrente, e a respeitada Agência Internacional de Energia (AIE) chegou a perguntar em um relatório no ano passado: "Estaríamos entrando na 'era dourada do gás'"?

'Revolução do gás'

A causa do entusiasmo está relacionada aos bons resultados obtidos na exploração desse recurso nos Estados Unidos. Até 2008, os americanos importavam cerca de 13% do gás consumido no país do Canadá, segundo um relatório da consultoria KPMG.
Hoje, com a exploração das reservas de xisto, não só o país se tornou autossuficiente, como já pensa em exportar. Para completar, o preço do produto está caindo de forma acentuada, com os custos de extração cobertos pela venda de outros produtos químicos produzidos no processamento do gás.
"Nesse cenário, não é de se estranhar que hoje uma das grandes corridas tecnológicas nos Estados Unidos seja para desenvolver e aprimorar meios de transporte a gás, permitindo a redução do consumo de petróleo convencional", diz Frank Umbach, especialista em segurança energética do Centre for European Security Strategies, com sede em Munique.
Reservas de gás de xisto são exploradas na Pensilvânia, na Louisiana e no Texas e já representam 30% do consumo de gás no país. Já o petróleo de xisto é produzido em Dakota do Norte e no Texas.
As expectativas criadas por tais mudanças também ajudam a explicar por que a Argentina expropriou neste mês a petrolífera YPF, controlada pela espanhola Repsol, que explorava as reservas de petróleo e gás de xisto nos campos de Vaca Muerta.
"A percepção de que essa nova fonte de combustível fóssil pode mudar significativamente a posição dos países no mercado de energia cria um senso de urgência com relação a exploração desses campos", explica Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), em São Paulo. "A Argentina pedia mais investimentos para avançar nessa corrida, mas o governo continua limitando o preço cobrado pela energia internamente, o que reduz o interesse das empresas."

Tecnologias cruciais

Duas tecnologias foram cruciais para viabilizar a exploração do gás de xisto. A primeira é a técnica de perfuração horizontal, que permite o aproveitamento de reservas espalhadas por grandes áreas geográficas, mas pouco profundas. A segunda é a de fraturamento hidráulico, que consiste no bombeamento de uma mistura de água, areia e produtos químicos para dentro dos poços de exploração.

O impacto produzido por esse jorro de alta pressão produz pequenas fissuras nas rochas, liberando o gás que é canalizado para os dutos.
A exploração de petróleo de xisto (na realidade, um óleo semelhante mas não idêntico ao petróleo convencional) é um pouco diferente. Ás vezes esse combustível líquido é encontrado entre as rochas, mas em geral ele é produzido com o aquecimento do xisto.
Para o especialista em petróleo e energia Jed Bailey, da Energy Narrative, nos EUA, o que faz do xisto um dos motores de uma revolução na geopolítica da energia é a forma democrática como essas rochas estão distribuídas geograficamente.
Reservas desse material estão sendo encontradas de norte a sul do globo, em todos os continentes. Por enquanto, as maiores estão na China, Argentina, México, África do Sul, Estados Unidos, Canadá e Austrália, mas também há reservas na Colômbia, França, Polônia e Grã-Bretanha, entre outros países. No Brasil, a Petrobrás produz petróleo de xisto no Paraná.
Pires chama a atenção para o fato de que Estados Unidos e China, países que lideram o ranking de consumo de energia no mundo, também concentram algumas das maiores reservas. "O gás de xisto e todas essas outras fontes não convencionais alimentam as esperanças de importadores de energia de reduzirem sua dependência de exportadores problemáticos ou instáveis", explica.
Para Bailey, no caso dos EUA, uma diversificação para além do petróleo tradicional poderia fazer com que, no longo prazo, houvesse menos justificativa e apoio político para interferências no Oriente Médio, por exemplo. "No entanto, isso não quer dizer que a região sairia de vez do radar americano, por causa da sua influência na formação de preços no mercado global de energia", diz.

Problemas ambientais

Há algumas ressalvas importantes no que diz respeito a exploração desses combustíveis fósseis não convencionais. A primeira é a questão dos altos custos, que fazem com que a utilização de muitas dessas tecnologias só se justifique se os preços de seus produtos se mantiverem em um patamar relativamente elevado.
Um segundo porém é que o sucesso da exploração dessas novas fontes de petróleo e gás desanima a busca de fontes de energia renováveis e usos mais eficientes de energia. O petróleo não convencional é tão poluente quanto o convencional.
"E mesmo que o gás de xisto substitua o carvão e o petróleo, fontes de energia mais sujas, não deixa de ser uma fonte suja também, porque sua queima emite poluentes", explica Bailey. "Além disso, com o preço do gás caindo, a energia eólica ou solar hoje parece cada vez menos vantajosa."
No caso da exploração de gás de xisto, outro agravante é que ainda não há clareza sobre os riscos de contaminação do lençol freático pelos produtos químicos usados em sua exploração. Também acredita-se que o gás liberado no processo de extração possa causar pequenas explosões subterrâneas e tremores, embora a tese ainda não esteja comprovada.
Por causa dessa preocupações, a França foi o primeiro país a proibir as técnicas de fraturamento hidráulico, em julho de 2011, banindo até pesquisas nessa área. Na Grã-Bretanha, grupos ambientalistas têm se oposto a exploração de uma reserva em Lancashire, embora uma comissão no Parlamento tenha avaliado a técnica como segura. “Existe uma corrida por essas novas tecnologias por questões de conveniência econômica e interesses geopolíticos, mas isso não quer dizer que elas sejam sustentáveis do ponto de vista ambiental”, diz Pires.

Governo anuncia mudança em regras da poupança na 5a-feira-fontes

Da Reuters:



Por Jeferson Ribeiro e Ana Flor
BRASÍLIA, 2 Mai (Reuters) - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anuncia na quinta-feira mudanças nas regras da caderneta de poupança para abrir caminho para que o Banco Central reduza ainda mais a taxa básica de juros, informaram duas fontes do governo à Reuters.
A tendência é que a alteração seja encaminhada ao Congresso Nacional por meio de medida provisória, segundo uma dessas fontes.
O governo deverá apresentar primeiro a proposta de mudança aos integrantes do conselho político do governo formado por líderes e presidentes de partidos aliados em reunião marcada para às 14h. A proposta deverá ser exposta também a sindicalistas e empresários a serem recebidos pela presidente ao longo do dia.



terça-feira, 1 de maio de 2012

Mas na Globo.....


O trabalho e os pobres que fazem a História



Por Mauro Santayana


Até recentemente os historiadores desdenhavam os pobres. A crônica do passado se fazia em torno de reis débeis, alguns; corajosos, outros. Também os intelectuais, cientistas e artistas sempre estiveram na vanguarda da história oficial. A civilização se fazia também com os santos, mas os santos da Igreja, em sua maioria, eram recrutados entre os membros da classe dominante na Idade Média, ainda que renunciassem à riqueza, como Francisco de Assis, ou se fizessem mártires nas guerras que, de santas nada tinham, como as cruzadas. Os santos modernos, com raras exceções, são militantes políticos contra os pobres, como o fundador da Opus dei.


Hoje cresce entre os acadêmicos a preocupação com a “História vista de baixo”, embora a razão recomende não estabelecer o que seja alto ou baixo na construção do homem. É bom olhar o trabalho dos pobres, e sua luta por justiça, como o sumo da História. Não foram os faraós que construíram as pirâmides, mas, sim, os escravos; as grandes cidades modernas podem ter sido imaginadas pelos arquitetos geniais, mas não sairiam das pranchetas sem as mãos ásperas dos pedreiros, armadores e carpinteiros. O mundo virtual, abstrato, dos pensadores, prescinde do trabalho pesado, mas a doma da natureza, com a agricultura e o pastoreio, e sua transformação em objetos tangíveis, são conquistas da  fadiga cotidiana.


Muitos trabalhadores que hoje estão comemorando o primeiro de maio, não  sabem exatamente como surgiu essa tradição. Ela se deve a uma das primeiras greves organizadas nos Estados Unidos, em 1886. No dia 3 de maio, parados havia algum tempo, os trabalhadores de uma indústria de máquinas colheitadeiras de Chicago, a McCormick Harvesting Machine Company, formaram piquetes diante dos portões da fábrica e foram dissolvidos pelos policiais que protegiam os fura-greves, com a morte de vários operários e  dezenas de presos e feridos. Como protesto, eles se reuniram, com o apoio de outros trabalhadores, no dia seguinte, na praça do Heymarket, no centro da cidade.


Entre outras reivindicações, os grevistas exigiam a fixação da jornada do trabalho em oito horas diárias. Os patrões, como fazem até hoje, organizaram pelotões de bate-paus, garantidos para ajudar a polícia. Houve o conflito, com os grevistas se defendendo como podiam, e uma bomba explodiu, matando sete policiais. A polícia atirou, matou muitos trabalhadores e buscou suspeitos. Um líder dos trabalhadores, August Spies, embora provasse não estar no local, foi, com três outros, também vistos como inocentes, condenados à forca, e executados em 11 de novembro do ano seguinte. Um dos presos matou-se.  Os três que conseguiram escapar do cadafalso foram perdoados, em 1893,  pelo governador de Illinois, John P. Altgeld. O movimento sindical, que existia, de forma dispersa e débil, desde a presidência de Andrew Jackson, tomou corpo a partir do episódio, com a reorganização da American Federation of Labor.


O século 20 começou com a criação de novos sindicatos de trabalhadores, principalmente  nos Estados Unidos e na Inglaterra ( já anteriormente com o incentivo do conservador Disraeli), e na Alemanha. Foram as lutas dos trabalhadores que moderaram, um pouco, a avidez dos capitalistas liberais. Essas lutas se iniciaram em 1848 na Europa, tiveram impulso com a Comuna de Paris, em 1871, e viveram a sua grande data no massacre do Haymarket e suas conseqüências, em 1886.


Na luta contra a Depressão dos anos 30, os países ocidentais (na União Soviética a situação era outra) procuraram incentivar o sindicalismo e contar com seu apoio. Hitler decretou, no dia 1º de maio de 1933, que a data seria festejada sob o nazismo como o Dia do Trabalho. No dia seguinte, fechou todos os sindicatos, prendeu seus líderes e iniciou a perseguição aos socialistas e comunistas.  Nos Estados Unidos e no Canadá, para desvincular a comemoração do massacre de maio,  a data escolhida foi a da primeira segunda feira de setembro.


O movimento sindical, para ser autêntico, não deve atrelar-se aos governos, ainda que, na defesa do interesse dos trabalhadores, possa apoiar essa ou aquela medida dos estados nacionais. Foi a luta dos trabalhadores ingleses que criou o Labour Party na Inglaterra, em 1906, e conseguiu as reformas das leis do trabalho que permitiram o desenvolvimento econômico e político da Grã Bretanha, e a levaram ao forte  desempenho bélico na Primeira e na Segunda Guerra Mundial.


Os historiadores começam a deixar os papéis dos gabinetes oficiais e as alcovas da nobreza, a fim de encontrar os verdadeiros agentes da civilização,  no estudo da vida e da resistência dos pobres contra a opressão – o que ela tem de melhor. É hora de que se faça o mesmo em nosso país. É mais importante estudar a resistência dos negros e dos  brancos miseráveis do Brasil Colônia – que valiam menos do que os escravos, posto que os últimos, como bens de produção, tinham valor de mercado – do que imaginar como eram os encontros galantes de Pedro I com a Marquesa de Santos. Foi o suor dos desprezados que deu liga à argamassa de nossa nação – e de todas as outras nações.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Dilma nomeia Brizola Neto ministro do trabalho.



Por Luis Nassif
A nomeação de Brizola Neto para o Ministério do Trabalho permite uma leitura objetiva: a presidente Dilma Rousseff não se curvou aos riscos da CPI e vai pagar para ver.
Apesar de originalmente do PDT, Dilma conheceu Brizola Neto apenas na campanha de 2010. E reconheceu desde logo o papel eficiente que desempenhou com seu blog O Tijolaço.
Depois, deu tempo ao tempo, com seu estilo que vai se consolidando: em vez de movimentos bruscos, ações planejadas, lentas porém seguras.
Durante o dia, no Twitter liam-se mensagens de colunistas desdenhando a falta de formação acadêmica de Brizola Neto. Curiosamente, seu Tijolaço tem uma consistência e uma linguagem imensamente superior à da maioria dos colunistas – incluindo seus críticos.
No final da tarde, O Globo se valeu dos expedientes de sempre, dando voz apenas aos críticos de Brizola Neto e sonegando as declarações a favor.
Foi um lance consolidador e repleto de significados. No mesmo momento em que a velha mídia incensa como seu porta-voz  Miro Teixeira, do PDT, Dilma indica Brizola Neto, um dos críticos mais consistentes dos vícios do velho jornalismo, assim como seu avô.
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Por Paulo Henrique Amorim
Brizola Neto foi um precursor na batalha pela Democracia na blogosfera brasileira.
Logo transformou o Tijolaço no melhor blog de um político brasileiro.
É claro que ele contou com a pena destemida e precisa de Fernando Brito, que foi assessor de imprensa de Leonel Brizola.
“Tijolaço” é como se chamava o espaço dominical que Brizola tinha que comprar no PiG (*) do Rio para poder expor suas ideias e se defender, sobretudo, da fúria do Roberto Marinho.
Chamar o blog de “Tijolaço” foi uma homenagem ao político brasileiro que teve a coragem de enfrentar a Globo: “quando eu sentar naquela cadeira, a primeira coisa que farei será questionar aquele monopólio”, prometia Brizola nas campanhas presidenciais.
(Tatto, Odair, dá uma olhada no vídeo em que o Roberto Marinho lê um editorial escrito pelo Brizola. Olha bem e vai para a CPI e chama o Robert(o) Civita e os filhos do Roberto Marinho, Tatto, Odair ! Vocês querem entrar para a História, ou fugir dela ?)
Brizola Neto foi para o Ministério do Trabalho, que João Goulart ocupou com brilho e valentia.
Mas, poderia ir para o Ministério das Comunicações, ele que defende um marco regulatório, uma Ley de Medios.
Aí, nesse campo, Brizola Neto sujou bastante.
Como no primeiro encontro nacional de blogueiros sujos (o próximo será em Salvador, no dia 25 de maio.)
E tomara que Brizola suje cada vez mais.
Com a ajuda incomparável do Fernando Brito.

domingo, 29 de abril de 2012

Só falta combinar com os governos ESTADUAIS e MUNICIPAIS


Por Vladimir Safatle
Há alguns anos, o cientista político André Singer cunhou o termo “lulismo” para dar conta do modelo político-econômico implementado no Brasil desde o início do século 21.
Baseado em uma dinâmica de aumento do poder aquisitivo das camadas mais baixas da população por meio do aumento real do salário mínimo, de programas de transferência de renda e de facilidades de crédito para consumo, o lulismo conseguiu criar o fenômeno da “nova classe média”.
No plano político, esse aumento do poder aquisitivo da base da pirâmide social foi realizado apoiando-se na constituição de grandes alianças ideologicamente heteróclitas, sob a promessa de que todos ganhariam com os dividendos eleitorais da ascensão social de parcelas expressivas da população.
O resultado foi uma política de baixa capacidade de reforma estrutural e de perpetuação dos impasses políticos do presidencialismo de coalizão brasileiro.
No entanto é bem possível que estejamos no momento de compreensão dos limites do modelo gestado no governo anterior. O aumento exponencial do endividamento das famílias demonstra como elas, atualmente, não têm renda suficiente para dar conta das novas exigências que a ascensão social coloca na mesa.
É fato que o país precisa de uma nova repactuação salarial. As remunerações são, em média, radicalmente baixas e corroídas por gastos que poderiam ser bancados pelo Estado. Por isso, é possível dizer que a próxima etapa do desenvolvimento nacional passe pela recuperação dos salários.
A melhor maneira de fazer isso é por meio de uma certa ação do Estado. Uma família que recebe R$ 3.500 mensais gasta praticamente um terço de sua renda só com educação privada e planos de saúde. Normalmente, tais serviços são de baixa qualidade. Caso fossem fornecidos pelo Estado, tais famílias teriam um ganho de renda que isenção alguma de imposto seria capaz de proporcionar.
Entretanto a universalização de uma escola pública de qualidade e de um serviço de saúde que realmente funcione não pode ser feita sob a dinâmica do lulismo, pois ela exige investimentos estatais só possíveis pela taxação pesada sobre fortunas, lucros bancários e renda da classe alta. Ou seja, isso exige um aumento de impostos sobre aqueles que vivem de maneira nababesca e que têm lucros milionários no sistema financeiro.
Algo dessa natureza exige, por sua vez, uma mobilização política que está fora do quadro de consensos do lulismo.Porém a força política que poderia pressionar essa nova dinâmica ainda não existe no Brasil. Ela pede uma esquerda que não tenha medo de dizer seu nome.
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O papel da esfera FEDERAL  é criar as condições. 
Preparar o cenário. Prover recursos.
Administrar e por em prática cabe ao governador ou prefeito.
Ta na constituição que nos rege.......desde 1988.
Mas os jornais não fazem questão de esclarecer.......muito pelo contrário.
O povo há muito vem sendo DESINFORMADO por eles.