sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

2012 Por Amir Khair

“Os países ditos desenvolvidos não têm condições de consumir o que vinham consumindo. Eles terão que ‘apertar os cintos’, não há alternativa. A única maneira que vejo como possível recuperação - muito lenta - desses países será pela via da exportação, ou seja, eles terão que ter uma sensível redução nos custos salariais, além de desvalorizar ainda mais as suas moedas para ganhar poder competitivo internacional. Não espero que esses países tenham um desenvolvimento no mercado interno, porque passarão por um emagrecimento de vários anos”. A análise é do economista Amir Khair, em entrevista concedida por telefone para a IHU On-Line. Na sua visão, “para a economia mundial, 2012 será um ano nada bom. Vejo como um ano de redução global nas exportações, e de uma situação bastante conflituosa do ponto de vista social, especialmente nos países desenvolvidos, que terão problemas bastante graves do ponto de vista de tentativa de arrocho encima das populações, como já vem fazendo a Europa, com resultados bastante negativos”.
Amir Khair é mestre em Finanças Públicas pela Fundação Getúlio Vargas – FGV-SP. Foi secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo na gestão da prefeita Luiza Erundina (1989-1992). É consultor na área fiscal, orçamentária e tributária.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

2011 e 2012

2011, o ano em que a mídia demitiu ministros. 2012, o ano da Privataria.

A imprensa estará muito menos disposta a comprar uma briga durante a CPI da Privataria – quer porque ela começa questionando a lisura de aliados sólidos da mídia hegemônica em 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010, quer porque esse tema é uma caixinha de surpresas.

Em 2005, quando começaram a aparecer resultados da política de compensação de renda do governo de Luiz Inácio Lula da Silva – a melhoria na distribuição de renda e o avanço do eleitorado “lulista” nas populações mais pobres, antes facilmente capturáveis pelo voto conservador –, eles eram mensuráveis. Renda é renda, voto é voto. Isso permitia a antevisão da mudança que se prenunciava. Tinha o rosto de uma política, de pessoas que ascendiam ao mercado de consumo e da decadência das elites políticas tradicionais em redutos de votos “do atraso”. Um balanço do que foi 2011, pela profusão de caminhos e possibilidades que se abriram, torna menos óbvia a sensação de que o mundo caminha, e o Brasil caminha também, e até melhor. O país está andando com relativa desenvoltura. Não que vá chegar ao que era (no passado) o Primeiro Mundo num passe de mágicas, mas com certeza a algo melhor do que as experiências que acumulou ao longo da sua pobre história.
p class="texto">O perfil político do governo Dilma é mais difuso, mas não se pode negar que tenha estilo próprio, e sorte. As ofensivas da mídia tradicional contra o seu ministério permitirão a ela, no próximo ano, fazer um gabinete como credora de praticamente todos os partidos da coalizão governamental. No início do governo, os partidos tinham teoricamente poder sobre ela, uma presidenta que chegou ao Planalto sem fazer vestibular em outras eleições. Na reforma ministerial, ela passa a ter maior poder de impor nomes do que os partidos aliados, inclusive o PT. Do ponto de vista da eficiência da máquina pública – e este é o perfil da presidenta – ela ganha muito num ano em que os partidos estarão mais ocupados com as questões municipais e em que o governo federal precisa agilidade para recuperar o ritmo de crescimento e fazer as obras para a Copa do Mundo.
Sorte ou arte, o distanciamento de Dilma das denúncias contra os seus ministros, o fato de não segurar ninguém e, especialmente, seu estilo de manter o pé no acelerador das políticas públicas independentemente se o ministro da pasta é o candidato a ser derrubado pela imprensa, não a contaminaram com os malfeitos atribuídos a subalternos. Prova é a popularidade registrada no último mês do ano.
Mais sorte que arte, a reforma ministerial começa no momento em que a grande mídia, que derrubou um a um sete ministros de Dilma, se meteu na enrascada de lidar com muito pouca arte no episódio do livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Passou recibo numa denúncia fundamentada e grave. Envolve venda (ou doação) do patrimônio público, lavagem de dinheiro – e, na prática, a arrogância de um projeto político que, fundamentado na ideia de redução do Estado, incorporou como estratégia a “construção” de uma “burguesia moderna”, escolhida a dedo por uma elite iluminada, e tecida especialmente para redimir o país da velha oligarquia, mas em aliança com ela própria. Os beneficiários foram os salvadores liberais, príncipes da nova era. O livro “Cabeças de Planilha”, de Luís Nassif, e o de Amaury, são complementares. O ciclo brasileiro do neoliberalismo tucano é desvendado em dois volumes “malditos” pela grande imprensa e provado por muitas novas fortunas. Na teoria. Na prática, isso é apenas a ponta do iceberg, como disse Ribeiro Jr. no debate de ontem (20), realizado pelo Centro de Estudos Barão de Itararé, no Sindicato dos Bancários: se o “Privataria” virar CPI, José Serra, família e amigos serão apenas o começo.
A “Privataria” tem muito a ver com a conjuntura e com o esporte preferido da imprensa este ano, o “ministro no alvo”. Até a edição do livro, a imprensa mantinha o seu poder de agendamento e derrubava ministros por quilo; Dilma fingia indiferença e dava a cabeça do escolhido. A grande mídia exultou de poder: depois de derrubar um presidente, nos anos 90, passou a definir gabinetes, em 2011, sem ter sido eleito e sem participar do governo de coalizão da mandatária do país. A ideologia conservadora segundo a qual a política é intrinsicamente suja, e a democracia uma obra de ignorantes, resolveu o fato de que a popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizimou a oposição institucional, em 2010, e a criação do PSD jogou as cinzas fora, terceirizando a política: a mídia assumiu, sem constrangimentos, o papel de partido político. No ano de 2011, a única oposição do país foi a mídia tradicional. As pequenas legendas de esquerda sequer fizeram barulho, por falta de condições, inclusive internas (parece que o P-SOL levou do PT apenas uma vocação atávica para dissidências internas; e o PT, ao institucionalizar-se, livrou-se um pouco dela – aliás, nem tanto, vide o último capítulo do livro do Amaury Ribeiro Jr.).
Quando a presidenta Dilma Rousseff começar a escolher seus novos ministros, e se fizer isso logo, a grande mídia ainda estará sob o impacto do contrangimento. Dilma ganhou, sem imaginar, um presente de Papai Noel. A imprensa estará muito menos disposta a comprar uma briga durante a CPI da Privataria – quer porque ela começa questionando a lisura de aliados sólidos da mídia hegemônica em 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010, quer porque esse tema é uma caixinha de surpresas.
Isso não chega a ser uma crise que a democracia não tenha condições de lidar. Na CPI dos Anões do Orçamento, que atingiu o Congresso, os partidos viveram intensamente a crise e, até por instinto de sobrevivência, cortaram na própria carne (em alguns casos, com a ajuda da imprensa, jogaram fora a água da bacia com alguns inocentes junto). A CPI pode ser uma boa chance de o Brasil fazer um acerto com a história de suas elites.
E, mais do que isso, um debate sério, de fato, sobre um sistema político que mantém no poder elites decadentes e é facilmente capturado por interesses privados. Pode dar uma boa mão para o debate sobre a transparência do Estado e sobre uma verdadeira separação da política e do poder econômico. 2012 pode ser bom para a reforma política, apesar de ter eleições municipais. Pode ser o ano em que o Brasil começará a discutir a corrupção do seu sistema político como gente grande. Cansou essa brincadeira de o tema da corrupção ser usado apenas como slogan eleitoral. O Brasil já está maduro para discutir e resolver esse sério problema estrutural da vida política brasileira.
(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

A farra das privatizações (doações) na era FHC.

" O torra-torra das estatais não capitalizou o Estado, ao contrário, as dívidas internas e externas aumentaram, porque o governo engoliu o débito das estatais leiloadas - para torna-las mais palatáveis aos compradores - e ainda as multinacionais não trouxeram capital próprio para o Brasil, Em vez disso, contraíram empréstimos no exterior e , assim, fizeram crescer a dívida externa. Para agravar o quadro, os cofres nacionais financiaram a aquisição das estatais e aceitaram moedas podres, títulos públicos adquiridos por metade do valor de face, na negociação."




Trecho do livro "A Privataria Tucana" do jornalista Amaury Ribeiro Jr.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um colunista da Folha

O INIMIGO DA MORAL
Por Vladimir Safatli
O maior inimigo da moralidade não é a imoralidade, mas a parcialidade.
O primeiro atributo dos julgamentos morais é a universalidade. Pois espera-se de tais julgamentos que sejam simétricos, que tratem casos semelhantes de forma equivalente. Quando tal simetria se quebra, então os gritos moralizadores começam a soar como astúcia estratégica submetida à lógica do "para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei".
Devemos ter isso em mente quando a questão é pensar as relações entre moral e política no Brasil. Muitas vezes, a imprensa desempenhou um papel importante na revelação de práticas de corrupção arraigadas em vários estratos dos governos. No entanto houve momentos em que seu silêncio foi inaceitável.
p>Por exemplo, no auge do dito caso do mensalão, descobriu-se que o esquema de corrupção que gerou o escândalo fora montado pelo presidente do maior partido de oposição. Esquema criado não só para financiar sua campanha como senador mas (como o próprio afirmou em entrevista à Folha) também para arrecadar fundos para a campanha presidencial de seu candidato.
Em qualquer lugar do mundo, uma informação dessa natureza seria uma notícia espetacular. No Brasil, alguns importantes veículos da imprensa simplesmente omitiram essa informação a seus leitores durante meses.
Outro exemplo ilustrativo acontece com o metrô de São Paulo. Não bastasse ser uma obra construída a passos inacreditavelmente lentos, marcada por adiamentos reiterados, com direito a acidentes mortais resultantes de parcerias público-privadas lesivas aos interesses públicos, temos um histórico de denúncias de corrupção (caso Alstom), licitações forjadas e afastamento de seu presidente pela Justiça, que justificariam que nossos melhores jornalistas investigativos se voltassem ao subsolo de São Paulo.
Agora volta a discussão sobre o processo de privatização do governo FHC. Na época, as denúncias de malversações se avolumaram, algumas apresentadas por esta Folha. Mas vimos um festival de "engavetamento" de pedidos de investigação pela Procuradoria-Geral da União, assim como CPIs abortadas por manobras regimentais ou sufocadas em seu nascedouro. Ou seja, nada foi, de fato, investigado.
O povo brasileiro tem o direito de saber o que realmente aconteceu na venda de algumas de suas empresas mais importantes. Não é mais possível vermos essa situação na qual uma exigência de investigação concreta de corrupção é imediatamente vista por alguns como expressão de interesses partidários. O Brasil será melhor quando o ímpeto investigativo atingir a todos de maneira simétrica.

A banalidade do mal


Por Paulo Moreira Leite
da Época

A atitude dos governos europeus diante do sofrimento que a politica de austeridade começa a produzir produzir nos países mais frágeis da União Européia lembra um dos períodos negros da consciência política no Velho Mundo.

Na Grécia, crianças famintas desmaiam nas salas de aula porque passaram vários dias sem comer. Algumas universidades daquele país estão sem aulas há meses. Não há dinheiro para pagar professores, nem para o material didático, nem para o básico.
arcelona, a prefeitura decide racionalizar o uso de papel higiênico nas escolas para conter custos. Na Espanha inteira, o desemprego entre jovens passou dos 40%.
Alguém se escandaliza? Deixando quem vai protestar na rua, manifestando sua raiva e sua impotência, a atitude geral é de silencio e conformismo. A fome das crianças gregas é tão previsível como abrir o chuveiro e aguardar pela queda d’água. O pais foi asfixiado por sucessivos planos de ajuste econômico que trouxeram mais sacrifícios e sofrimentos.
Estamos assistindo a uma nova versão da velha banalidade mal, conceito essencial para entender  o caráter impessoal e burocratizado de boa parte das políticas de Estado em nossa época.
Altos funcionários e executivos despidos de todo sentimento ético e toda solidariedade em relação a outros seres humanos são capazes de cometer atos cruéis e vergonhosos, sem sentirem-se obrigados a refletir sobre as consequências.
Hanna Arendt criou este conceito numa situação extrema — para definir a postura de Adolf Eichmann durante o período nazista. Responsável pela administração da máquina que executou 6 milhões de judeus, o carrasco Eichmann garantiu em seu julgamento que não possuía um ódio especial pelas pessoas que enviou aos campos da morte.
Não era um ”monstro”. Era um funcionário. Considerava que, cumprindo seu dever naquele posto que lhe fora designado, estava contribuindo para o bem do país e para sua carreira. Eichmann negava que tivesse uma motivação perversa. Por isso, disse em seu julgamento, devia ser considerado inocente das acusações que lhe eram feitas. Nem era anti-semita, declarou. Essa argumentação traduziu a “banalidade do mal”.
E ajuda a pensar sobre a postura que homens e mulheres em posições de responsabilidade podem assumir em suas épocas, quando deixam de levar em consideração a condição humana.
Além de eliminar judeus em campos de concentração, o nazismo escravizou boa parte da população da Europa Central para trabalhar como mão-de-obra gratuita na industria de guerra. Num país ocupado por tropas alemãs, 200 000 gregos morreram de fome.
Não há portanto comparação possível entre a ditadura nazista e os governos democráticos de hoje. Vivemos em outro mundo. Os governantes são eleitos e a liberdade atinge um patamar inédito na história do Ocidente.
Mas a banalidade do mal reaparece, ainda que seja em outro contexto. E, mais uma vez, ela expressa o esforço de quem pratica atos socialmente cruéis mas se esforça para eximir-se de toda responsabilidade. E, não por acaso, sua existência ganha músculos em regimes onde a democracia é ultrapassada — o que acontece quando a população não é autorizada a dar sua opinião sobre questões fundamentais de sua existencia, como a política econômica.
Deixando de lado o blá-blá-blá da perseverança que se tornou o discurso oficial dos governantes europeus, a politica de austeridade ameaça jogar o Continente numa situação de desespero profundo, onde a fome das crianças gregas é só o exemplo mais visível de uma tragédia bem maior.
Calouros de política econômica sabem muito bem o que acontece quando um governo força o corte de gastos públicos, não estimula o consumo nem a criação de empregos. É o caminho mais rápido para transformar a região mais rica do planeta, com PIB de 16 trilhões de dólares, no cemitério do mais equilibrado sistema de bem-estar social.
Analista econômico com todas as credenciais de quem é advogado da economia de mercado, Martin Wolf, principal editor do Financial Times, define a política da União Européia como “recessão estrutural”. Com isso, ele quer dizer que o Velho Mundo está sendo levado para um programa de depressão economica de longo prazo, que irá reduzir salários, cortar programas sociais e regressão em toda linha, sem apontar nada no fim do túnel.
Pergunte-se aos governantes e tecnocrataas da Europa qual sua responsabilidade pelo que está ocorrendo com as crianças gregas, com os jovens espanhóis, com os italianos à beira da falencia.  Nenhuma. Não tem culpa de nada. A maioria não tem religião, o que costuma livrar muitas pessoas de sentirem incômodos de consciencia. Ninguém se sente responsável. Não são monstros. São pessoas normais.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A democracia da internet.

Os filtros algorítmicos personifica a internet e limita os acessos as 


informações.



Eli Pariser 2011 from TED & Tira on Vimeo.

O estopim que deu inicio a Primavera Árabe.

Primavera Árabe é uma onda revolucionária de manifestações e protestos que vêm ocorrendo no Oriente Médio e no Norte da África desde 18 de dezembro de 2010.



O homem que 'acendeu' a fagulha da Primavera Árabe
Frank Gardner
Da BBC News
Atualizado em  17 de dezembro, 2011 - 12:56 (Brasília) 14:56 GMManifestantes exibem cartaz com imagem de Mohamed Bouazizi (Reuters)
Bouazizi virou símbolo de resistência no mundo árabe
O homem que acendeu a fagulha do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe não era nenhum revolucionário incendiário.
Mohamed Bouazizi era um jovem vendedor de frutas e legumes que sustentava uma família de oito pessoas com menos de US$ 150 (cerca de R$ 278) por mês.
Notícias relacionadas
Tópicos relacionados
Sua maior ambição era trocar o carrinho de mão que usava para vender seus produtos por uma caminhonete.
''Naquele dia, Mohmaed saiu de casa para vender seus produtos como sempre fazia'', disse sua irmã Samya.
Protesto
''Mas quando ele os colocou à venda, três inspetores do governo pediram propinas. Mohamed se recusou a pagar'', recorda ela.
''Eles apreenderam os produtos e os colocaram dentro de seu carro. Eles tentaram retirar suas balanças, mas Mohamed se recusou a entregá-las, por isso eles bateram nele.''
Manoubia Bouazizi após votar em eleições na Tunísia
Mãe de feirante diz que morte de seu filho serviu para fazer da Tunísia um país melhor
Há relatos, não confirmados, de que uma fiscal teria insultado Samya e cuspido em seu rosto. Mas quer isso tenha também ocorrido ou não, o fato é que naquele momento algo estalou na cabeça do feirante de 26 anos.
Ele foi à sede do governo local para pedir os seus produtos de volta, mas o governador se recusou a recebê-lo. Então, ele comprou um latão de gasolina, jogou o combustível sobre si mesmo e acendeu um fósforo.
Mohamed Bouazizi foi levado às pressas para um hospital com queimaduras em 90% de seu corpo, mas seu ato de desespero levou multidões enfurecidas às ruas.
Onda de solidariedade
Alguma coisa em seu sentimento de desamparo diante da corrupção oficial, da alta de preços e da falta de oportunidades despertou uma onda de solidariedade.
Mesmo tendo sido repreendidos com brutalidade, os manifestantes não recuaram. Pelo contrário, se tornaram mais audaciosos.
Quando Bouazizi morreu em decorrência de seus ferimentos no dia 5 de janeiro de 2011, os protestos se intensificaram. Centenas de pessoas foram mortas, milhares foram presas.
O então presidente da Tunísia, Ben Ali, um autocrata militar no poder há 23 anos, foi à TV pedir calma. ''Desemprego é um problema global'', afirmou. Ele atribuiu a violência a gangues de mascarados, chamando-os de ''terroristas''.
O ex-presidente da Tunísia Ben Ali visita Mohamed Bouazizi no hospital
Pressões populares levaram Ben Ali a visitar Bouazizi no hospital
Assim como muitos líderes no mundo árabe, o presidente da Tunísia se via como um bastião contra o extremismo muçulmano. Ele acreditava que esse fato por si só lhe conferia carta branca para esmagar qualquer movimento que tivesse algum traço de democrático.
Mas ele subestimou o ressentimento de seu próprio povo contra o nepotismo, corrupção, privações econômicas e uma gestão pura e simplesmente incompetente.
Apenas nove dias após a morte do feirante, os tunisianos ouviram o primeiro-ministro anunciar que o presidente estava ''impossibilitado de exercer suas funções''.
Na verdade, ele fugiu subitamente com a sua família, primeiro tentando ir para França, que se recusou a deixar que seu avião pousasse. Depois, foi para a Arábia Saudita, que aceitou conceder-lhe asilo desde que ele reunciasse a todas suas atividades políticas.
O governo do presidente Ben Ali estava encerrado. Um processo desencadeado, em uma última instância, pelas ações de um quintandeiro frustrado.
Canções e poemas
Se Mohamed Bouazizi nunca tivesse nascido, muito provavelmente algum outro fator teria provocado a chamada Primavera Árabe, até porque essa erupção vinha se construindo há décadas.
Mas por todo o mundo árabe e até além dele, o nome de Bouazizi vem sendo eternizado em poemas, discursos e canções.
A moldura da ditadura inquestionável foi partida para sempre.