terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A previdência e o Salário Minimo

Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil


São Paulo – O aumento de R$ 77 do salário mínimo vai causar um gasto extra anual de R$ 19,8 bilhões à Previdência Social, de acordo com um estudo feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e divulgado hoje (27).

O custo para a Previdência, contudo, é menor do que o aumento da arrecadação de impostos que o novo salário mínimo trará. Segundo o Dieese, devido ao crescimento do consumo consequente da alta do piso salarial, a arrecadação de impostos subirá em R$ 22,9 bilhões em 2012.

Os beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) representam, de acordo com o levantamento, a maior parte dos brasileiros diretamente beneficiados com o aumento do piso salarial. Das 48 milhões de pessoas que têm sua renda vinculada ao valor do salário mínimo, 19,7 milhões (41%) são aposentados ou pensionistas.

O grande número de beneficiários faz com que cada R$ 1 de aumento no salário mínimo signifique mais R$ 257 milhões no gasto anual da Previdência Social. Como no dia 1º de janeiro o piso nacional passa de R$ 545 para R$ 622, o custo anual deste aumento para o INSS será R$ 19,8 bilhões.

Ainda de acordo com o Dieese, o aumento de 14,1% no salário mínimo fará com que o poder de compra do piso alcance o nível mais alto em mais de 30 anos. Levando-se em conta o valor da cesta básica apurado em novembro pela entidade (R$ 276,31), o novo piso poderá comprar 2,25 cestas. A maior quantidade registrada desde 1979. Atualmente, um salário mínimo equivale a 2,03 cestas básicas.

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Mas nos jornais, o sensacionalismo só frisa o gasto astronômico que a previdência terá em consequência.
Ou então, no fim do ano que vem, colocarão em suas primeiras paginas em letras garrafais o aumento de arrecadação de impostos.
O tolo, não sabe diferenciar um aumento de ATIVIDADE ECONOMICA de aumento de impostos (Micro empresas tiveram redução com o SIMPLES, eu sou um de milhares dos beneficiados).
R$22.9 Bilhões?
Na esfera FEDERAL (que leva a culpa por tudo - povo burro) a cifra nem alcançará os R$14 Bi. 
Muitas das arrecadações tem TRANSFERÊNCIA OBRIGATÓRIA para os estados e municípios.
O povo brasileiro, antes de cobrar qualquer coisa, precisaria aprender a votar. 
E o básico: saber o que é responsabilidade das esferas FEDERAIS, ESTADUAIS e MUNICIPAIS.
Ta na constituição amigo. 
A mãe de todas as Leis. ®

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

2012 Por Amir Khair

“Os países ditos desenvolvidos não têm condições de consumir o que vinham consumindo. Eles terão que ‘apertar os cintos’, não há alternativa. A única maneira que vejo como possível recuperação - muito lenta - desses países será pela via da exportação, ou seja, eles terão que ter uma sensível redução nos custos salariais, além de desvalorizar ainda mais as suas moedas para ganhar poder competitivo internacional. Não espero que esses países tenham um desenvolvimento no mercado interno, porque passarão por um emagrecimento de vários anos”. A análise é do economista Amir Khair, em entrevista concedida por telefone para a IHU On-Line. Na sua visão, “para a economia mundial, 2012 será um ano nada bom. Vejo como um ano de redução global nas exportações, e de uma situação bastante conflituosa do ponto de vista social, especialmente nos países desenvolvidos, que terão problemas bastante graves do ponto de vista de tentativa de arrocho encima das populações, como já vem fazendo a Europa, com resultados bastante negativos”.
Amir Khair é mestre em Finanças Públicas pela Fundação Getúlio Vargas – FGV-SP. Foi secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo na gestão da prefeita Luiza Erundina (1989-1992). É consultor na área fiscal, orçamentária e tributária.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

2011 e 2012

2011, o ano em que a mídia demitiu ministros. 2012, o ano da Privataria.

A imprensa estará muito menos disposta a comprar uma briga durante a CPI da Privataria – quer porque ela começa questionando a lisura de aliados sólidos da mídia hegemônica em 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010, quer porque esse tema é uma caixinha de surpresas.

Em 2005, quando começaram a aparecer resultados da política de compensação de renda do governo de Luiz Inácio Lula da Silva – a melhoria na distribuição de renda e o avanço do eleitorado “lulista” nas populações mais pobres, antes facilmente capturáveis pelo voto conservador –, eles eram mensuráveis. Renda é renda, voto é voto. Isso permitia a antevisão da mudança que se prenunciava. Tinha o rosto de uma política, de pessoas que ascendiam ao mercado de consumo e da decadência das elites políticas tradicionais em redutos de votos “do atraso”. Um balanço do que foi 2011, pela profusão de caminhos e possibilidades que se abriram, torna menos óbvia a sensação de que o mundo caminha, e o Brasil caminha também, e até melhor. O país está andando com relativa desenvoltura. Não que vá chegar ao que era (no passado) o Primeiro Mundo num passe de mágicas, mas com certeza a algo melhor do que as experiências que acumulou ao longo da sua pobre história.
p class="texto">O perfil político do governo Dilma é mais difuso, mas não se pode negar que tenha estilo próprio, e sorte. As ofensivas da mídia tradicional contra o seu ministério permitirão a ela, no próximo ano, fazer um gabinete como credora de praticamente todos os partidos da coalizão governamental. No início do governo, os partidos tinham teoricamente poder sobre ela, uma presidenta que chegou ao Planalto sem fazer vestibular em outras eleições. Na reforma ministerial, ela passa a ter maior poder de impor nomes do que os partidos aliados, inclusive o PT. Do ponto de vista da eficiência da máquina pública – e este é o perfil da presidenta – ela ganha muito num ano em que os partidos estarão mais ocupados com as questões municipais e em que o governo federal precisa agilidade para recuperar o ritmo de crescimento e fazer as obras para a Copa do Mundo.
Sorte ou arte, o distanciamento de Dilma das denúncias contra os seus ministros, o fato de não segurar ninguém e, especialmente, seu estilo de manter o pé no acelerador das políticas públicas independentemente se o ministro da pasta é o candidato a ser derrubado pela imprensa, não a contaminaram com os malfeitos atribuídos a subalternos. Prova é a popularidade registrada no último mês do ano.
Mais sorte que arte, a reforma ministerial começa no momento em que a grande mídia, que derrubou um a um sete ministros de Dilma, se meteu na enrascada de lidar com muito pouca arte no episódio do livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Passou recibo numa denúncia fundamentada e grave. Envolve venda (ou doação) do patrimônio público, lavagem de dinheiro – e, na prática, a arrogância de um projeto político que, fundamentado na ideia de redução do Estado, incorporou como estratégia a “construção” de uma “burguesia moderna”, escolhida a dedo por uma elite iluminada, e tecida especialmente para redimir o país da velha oligarquia, mas em aliança com ela própria. Os beneficiários foram os salvadores liberais, príncipes da nova era. O livro “Cabeças de Planilha”, de Luís Nassif, e o de Amaury, são complementares. O ciclo brasileiro do neoliberalismo tucano é desvendado em dois volumes “malditos” pela grande imprensa e provado por muitas novas fortunas. Na teoria. Na prática, isso é apenas a ponta do iceberg, como disse Ribeiro Jr. no debate de ontem (20), realizado pelo Centro de Estudos Barão de Itararé, no Sindicato dos Bancários: se o “Privataria” virar CPI, José Serra, família e amigos serão apenas o começo.
A “Privataria” tem muito a ver com a conjuntura e com o esporte preferido da imprensa este ano, o “ministro no alvo”. Até a edição do livro, a imprensa mantinha o seu poder de agendamento e derrubava ministros por quilo; Dilma fingia indiferença e dava a cabeça do escolhido. A grande mídia exultou de poder: depois de derrubar um presidente, nos anos 90, passou a definir gabinetes, em 2011, sem ter sido eleito e sem participar do governo de coalizão da mandatária do país. A ideologia conservadora segundo a qual a política é intrinsicamente suja, e a democracia uma obra de ignorantes, resolveu o fato de que a popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizimou a oposição institucional, em 2010, e a criação do PSD jogou as cinzas fora, terceirizando a política: a mídia assumiu, sem constrangimentos, o papel de partido político. No ano de 2011, a única oposição do país foi a mídia tradicional. As pequenas legendas de esquerda sequer fizeram barulho, por falta de condições, inclusive internas (parece que o P-SOL levou do PT apenas uma vocação atávica para dissidências internas; e o PT, ao institucionalizar-se, livrou-se um pouco dela – aliás, nem tanto, vide o último capítulo do livro do Amaury Ribeiro Jr.).
Quando a presidenta Dilma Rousseff começar a escolher seus novos ministros, e se fizer isso logo, a grande mídia ainda estará sob o impacto do contrangimento. Dilma ganhou, sem imaginar, um presente de Papai Noel. A imprensa estará muito menos disposta a comprar uma briga durante a CPI da Privataria – quer porque ela começa questionando a lisura de aliados sólidos da mídia hegemônica em 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010, quer porque esse tema é uma caixinha de surpresas.
Isso não chega a ser uma crise que a democracia não tenha condições de lidar. Na CPI dos Anões do Orçamento, que atingiu o Congresso, os partidos viveram intensamente a crise e, até por instinto de sobrevivência, cortaram na própria carne (em alguns casos, com a ajuda da imprensa, jogaram fora a água da bacia com alguns inocentes junto). A CPI pode ser uma boa chance de o Brasil fazer um acerto com a história de suas elites.
E, mais do que isso, um debate sério, de fato, sobre um sistema político que mantém no poder elites decadentes e é facilmente capturado por interesses privados. Pode dar uma boa mão para o debate sobre a transparência do Estado e sobre uma verdadeira separação da política e do poder econômico. 2012 pode ser bom para a reforma política, apesar de ter eleições municipais. Pode ser o ano em que o Brasil começará a discutir a corrupção do seu sistema político como gente grande. Cansou essa brincadeira de o tema da corrupção ser usado apenas como slogan eleitoral. O Brasil já está maduro para discutir e resolver esse sério problema estrutural da vida política brasileira.
(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

A farra das privatizações (doações) na era FHC.

" O torra-torra das estatais não capitalizou o Estado, ao contrário, as dívidas internas e externas aumentaram, porque o governo engoliu o débito das estatais leiloadas - para torna-las mais palatáveis aos compradores - e ainda as multinacionais não trouxeram capital próprio para o Brasil, Em vez disso, contraíram empréstimos no exterior e , assim, fizeram crescer a dívida externa. Para agravar o quadro, os cofres nacionais financiaram a aquisição das estatais e aceitaram moedas podres, títulos públicos adquiridos por metade do valor de face, na negociação."




Trecho do livro "A Privataria Tucana" do jornalista Amaury Ribeiro Jr.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um colunista da Folha

O INIMIGO DA MORAL
Por Vladimir Safatli
O maior inimigo da moralidade não é a imoralidade, mas a parcialidade.
O primeiro atributo dos julgamentos morais é a universalidade. Pois espera-se de tais julgamentos que sejam simétricos, que tratem casos semelhantes de forma equivalente. Quando tal simetria se quebra, então os gritos moralizadores começam a soar como astúcia estratégica submetida à lógica do "para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei".
Devemos ter isso em mente quando a questão é pensar as relações entre moral e política no Brasil. Muitas vezes, a imprensa desempenhou um papel importante na revelação de práticas de corrupção arraigadas em vários estratos dos governos. No entanto houve momentos em que seu silêncio foi inaceitável.
p>Por exemplo, no auge do dito caso do mensalão, descobriu-se que o esquema de corrupção que gerou o escândalo fora montado pelo presidente do maior partido de oposição. Esquema criado não só para financiar sua campanha como senador mas (como o próprio afirmou em entrevista à Folha) também para arrecadar fundos para a campanha presidencial de seu candidato.
Em qualquer lugar do mundo, uma informação dessa natureza seria uma notícia espetacular. No Brasil, alguns importantes veículos da imprensa simplesmente omitiram essa informação a seus leitores durante meses.
Outro exemplo ilustrativo acontece com o metrô de São Paulo. Não bastasse ser uma obra construída a passos inacreditavelmente lentos, marcada por adiamentos reiterados, com direito a acidentes mortais resultantes de parcerias público-privadas lesivas aos interesses públicos, temos um histórico de denúncias de corrupção (caso Alstom), licitações forjadas e afastamento de seu presidente pela Justiça, que justificariam que nossos melhores jornalistas investigativos se voltassem ao subsolo de São Paulo.
Agora volta a discussão sobre o processo de privatização do governo FHC. Na época, as denúncias de malversações se avolumaram, algumas apresentadas por esta Folha. Mas vimos um festival de "engavetamento" de pedidos de investigação pela Procuradoria-Geral da União, assim como CPIs abortadas por manobras regimentais ou sufocadas em seu nascedouro. Ou seja, nada foi, de fato, investigado.
O povo brasileiro tem o direito de saber o que realmente aconteceu na venda de algumas de suas empresas mais importantes. Não é mais possível vermos essa situação na qual uma exigência de investigação concreta de corrupção é imediatamente vista por alguns como expressão de interesses partidários. O Brasil será melhor quando o ímpeto investigativo atingir a todos de maneira simétrica.

A banalidade do mal


Por Paulo Moreira Leite
da Época

A atitude dos governos europeus diante do sofrimento que a politica de austeridade começa a produzir produzir nos países mais frágeis da União Européia lembra um dos períodos negros da consciência política no Velho Mundo.

Na Grécia, crianças famintas desmaiam nas salas de aula porque passaram vários dias sem comer. Algumas universidades daquele país estão sem aulas há meses. Não há dinheiro para pagar professores, nem para o material didático, nem para o básico.
arcelona, a prefeitura decide racionalizar o uso de papel higiênico nas escolas para conter custos. Na Espanha inteira, o desemprego entre jovens passou dos 40%.
Alguém se escandaliza? Deixando quem vai protestar na rua, manifestando sua raiva e sua impotência, a atitude geral é de silencio e conformismo. A fome das crianças gregas é tão previsível como abrir o chuveiro e aguardar pela queda d’água. O pais foi asfixiado por sucessivos planos de ajuste econômico que trouxeram mais sacrifícios e sofrimentos.
Estamos assistindo a uma nova versão da velha banalidade mal, conceito essencial para entender  o caráter impessoal e burocratizado de boa parte das políticas de Estado em nossa época.
Altos funcionários e executivos despidos de todo sentimento ético e toda solidariedade em relação a outros seres humanos são capazes de cometer atos cruéis e vergonhosos, sem sentirem-se obrigados a refletir sobre as consequências.
Hanna Arendt criou este conceito numa situação extrema — para definir a postura de Adolf Eichmann durante o período nazista. Responsável pela administração da máquina que executou 6 milhões de judeus, o carrasco Eichmann garantiu em seu julgamento que não possuía um ódio especial pelas pessoas que enviou aos campos da morte.
Não era um ”monstro”. Era um funcionário. Considerava que, cumprindo seu dever naquele posto que lhe fora designado, estava contribuindo para o bem do país e para sua carreira. Eichmann negava que tivesse uma motivação perversa. Por isso, disse em seu julgamento, devia ser considerado inocente das acusações que lhe eram feitas. Nem era anti-semita, declarou. Essa argumentação traduziu a “banalidade do mal”.
E ajuda a pensar sobre a postura que homens e mulheres em posições de responsabilidade podem assumir em suas épocas, quando deixam de levar em consideração a condição humana.
Além de eliminar judeus em campos de concentração, o nazismo escravizou boa parte da população da Europa Central para trabalhar como mão-de-obra gratuita na industria de guerra. Num país ocupado por tropas alemãs, 200 000 gregos morreram de fome.
Não há portanto comparação possível entre a ditadura nazista e os governos democráticos de hoje. Vivemos em outro mundo. Os governantes são eleitos e a liberdade atinge um patamar inédito na história do Ocidente.
Mas a banalidade do mal reaparece, ainda que seja em outro contexto. E, mais uma vez, ela expressa o esforço de quem pratica atos socialmente cruéis mas se esforça para eximir-se de toda responsabilidade. E, não por acaso, sua existência ganha músculos em regimes onde a democracia é ultrapassada — o que acontece quando a população não é autorizada a dar sua opinião sobre questões fundamentais de sua existencia, como a política econômica.
Deixando de lado o blá-blá-blá da perseverança que se tornou o discurso oficial dos governantes europeus, a politica de austeridade ameaça jogar o Continente numa situação de desespero profundo, onde a fome das crianças gregas é só o exemplo mais visível de uma tragédia bem maior.
Calouros de política econômica sabem muito bem o que acontece quando um governo força o corte de gastos públicos, não estimula o consumo nem a criação de empregos. É o caminho mais rápido para transformar a região mais rica do planeta, com PIB de 16 trilhões de dólares, no cemitério do mais equilibrado sistema de bem-estar social.
Analista econômico com todas as credenciais de quem é advogado da economia de mercado, Martin Wolf, principal editor do Financial Times, define a política da União Européia como “recessão estrutural”. Com isso, ele quer dizer que o Velho Mundo está sendo levado para um programa de depressão economica de longo prazo, que irá reduzir salários, cortar programas sociais e regressão em toda linha, sem apontar nada no fim do túnel.
Pergunte-se aos governantes e tecnocrataas da Europa qual sua responsabilidade pelo que está ocorrendo com as crianças gregas, com os jovens espanhóis, com os italianos à beira da falencia.  Nenhuma. Não tem culpa de nada. A maioria não tem religião, o que costuma livrar muitas pessoas de sentirem incômodos de consciencia. Ninguém se sente responsável. Não são monstros. São pessoas normais.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A democracia da internet.

Os filtros algorítmicos personifica a internet e limita os acessos as 


informações.



Eli Pariser 2011 from TED & Tira on Vimeo.

O estopim que deu inicio a Primavera Árabe.

Primavera Árabe é uma onda revolucionária de manifestações e protestos que vêm ocorrendo no Oriente Médio e no Norte da África desde 18 de dezembro de 2010.



O homem que 'acendeu' a fagulha da Primavera Árabe
Frank Gardner
Da BBC News
Atualizado em  17 de dezembro, 2011 - 12:56 (Brasília) 14:56 GMManifestantes exibem cartaz com imagem de Mohamed Bouazizi (Reuters)
Bouazizi virou símbolo de resistência no mundo árabe
O homem que acendeu a fagulha do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe não era nenhum revolucionário incendiário.
Mohamed Bouazizi era um jovem vendedor de frutas e legumes que sustentava uma família de oito pessoas com menos de US$ 150 (cerca de R$ 278) por mês.
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Sua maior ambição era trocar o carrinho de mão que usava para vender seus produtos por uma caminhonete.
''Naquele dia, Mohmaed saiu de casa para vender seus produtos como sempre fazia'', disse sua irmã Samya.
Protesto
''Mas quando ele os colocou à venda, três inspetores do governo pediram propinas. Mohamed se recusou a pagar'', recorda ela.
''Eles apreenderam os produtos e os colocaram dentro de seu carro. Eles tentaram retirar suas balanças, mas Mohamed se recusou a entregá-las, por isso eles bateram nele.''
Manoubia Bouazizi após votar em eleições na Tunísia
Mãe de feirante diz que morte de seu filho serviu para fazer da Tunísia um país melhor
Há relatos, não confirmados, de que uma fiscal teria insultado Samya e cuspido em seu rosto. Mas quer isso tenha também ocorrido ou não, o fato é que naquele momento algo estalou na cabeça do feirante de 26 anos.
Ele foi à sede do governo local para pedir os seus produtos de volta, mas o governador se recusou a recebê-lo. Então, ele comprou um latão de gasolina, jogou o combustível sobre si mesmo e acendeu um fósforo.
Mohamed Bouazizi foi levado às pressas para um hospital com queimaduras em 90% de seu corpo, mas seu ato de desespero levou multidões enfurecidas às ruas.
Onda de solidariedade
Alguma coisa em seu sentimento de desamparo diante da corrupção oficial, da alta de preços e da falta de oportunidades despertou uma onda de solidariedade.
Mesmo tendo sido repreendidos com brutalidade, os manifestantes não recuaram. Pelo contrário, se tornaram mais audaciosos.
Quando Bouazizi morreu em decorrência de seus ferimentos no dia 5 de janeiro de 2011, os protestos se intensificaram. Centenas de pessoas foram mortas, milhares foram presas.
O então presidente da Tunísia, Ben Ali, um autocrata militar no poder há 23 anos, foi à TV pedir calma. ''Desemprego é um problema global'', afirmou. Ele atribuiu a violência a gangues de mascarados, chamando-os de ''terroristas''.
O ex-presidente da Tunísia Ben Ali visita Mohamed Bouazizi no hospital
Pressões populares levaram Ben Ali a visitar Bouazizi no hospital
Assim como muitos líderes no mundo árabe, o presidente da Tunísia se via como um bastião contra o extremismo muçulmano. Ele acreditava que esse fato por si só lhe conferia carta branca para esmagar qualquer movimento que tivesse algum traço de democrático.
Mas ele subestimou o ressentimento de seu próprio povo contra o nepotismo, corrupção, privações econômicas e uma gestão pura e simplesmente incompetente.
Apenas nove dias após a morte do feirante, os tunisianos ouviram o primeiro-ministro anunciar que o presidente estava ''impossibilitado de exercer suas funções''.
Na verdade, ele fugiu subitamente com a sua família, primeiro tentando ir para França, que se recusou a deixar que seu avião pousasse. Depois, foi para a Arábia Saudita, que aceitou conceder-lhe asilo desde que ele reunciasse a todas suas atividades políticas.
O governo do presidente Ben Ali estava encerrado. Um processo desencadeado, em uma última instância, pelas ações de um quintandeiro frustrado.
Canções e poemas
Se Mohamed Bouazizi nunca tivesse nascido, muito provavelmente algum outro fator teria provocado a chamada Primavera Árabe, até porque essa erupção vinha se construindo há décadas.
Mas por todo o mundo árabe e até além dele, o nome de Bouazizi vem sendo eternizado em poemas, discursos e canções.
A moldura da ditadura inquestionável foi partida para sempre.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Deputado Protogenes Queiros consegue as assinaturas para a CPI da Privataria Tucana

por Conceição Lemes
No meio da tarde,  o deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SPdivulgou no twitter provavelmente a informação mais aguardada desta quinta-feira: Conseguimos 173 assinaturas de deputados para abrir a #CPIdaPrivatariaTucana. Eram necessárias 171 assinaturas para isso acontecer.
Mas a expectativa é de que ultrapassem as 200, segundo seu assessor de imprensa, com que falei há pouco:  “Não param de chegar ligações de deputados querendo assinar o pedido de CPI“.

A indignação de FHC

Nota do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
“A infâmia, infelizmente, tem sido parte da política partidária. Eu mesmo, junto com eminentes homens públicos do PSDB, fomos vítimas em mais de uma ocasião, a mais notória das quais foi o “Dossiê Cayman”, uma papelada forjada por falsários em Miami para dizer que possuíamos uma conta de centenas de milhões de dólares na referida ilha. Foi preciso que o FBI pusesse na cadeia os malandros que produziram a papelada para que as vozes interessadas em nos desmoralizar se calassem. Ainda nesta semana a imprensa mostrou quem fez a papelada e quem comprou o falso dossiê Cayman para usá-lo em campanhas eleitorais contra os tucanos. Esse foi o primeiro. Quem não se lembra, também, do “Dossiê dos Aloprados” e do “Dossiê de Furnas”, desmascarado nestes dias?
Na mesma tecla da infâmia, um jornalista indiciado pela Polícia Federal por haver armado outro dossiê contra o candidato do PSDB na campanha de 2010, fabrica agora “acusações”, especialmente, mas não só, contra José Serra. Na audácia de quem já tem experiência em fabricar “documentos” não se peja em atacar familiares, como o genro e a filha do alvo principal, que, sem ter culpa nenhuma no cartório, acabam por sofrer as conseqüências da calúnia organizada, inclusive na sua vida profissional.
Por estas razões, quero deixar registrado meu protesto e minha solidariedade às vítimas da infâmia e pedir à direção do PSDB, seus líderes, militantes e simpatizantes que reajam com indignação. Chega de assassinatos morais de inocentes. Se dúvidas houver, e nós não temos, que se apele à Justiça, nunca à infâmia.
São Paulo, 15 de dezembro de 2011
Fernando Henrique Cardoso”

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sobre o livro "A Privataria Tucana" III


Por Luiz Carlos Azenha
Finalmente. Muito comentado durante toda a campanha eleitoral de 2010, quando foi apresentado pela imprensa serrista como um dossiê contra o candidato ao Planalto do PSDB, José Serra, o livro de Amaury Ribeiro Jr., Privataria Tucana, de 344 páginas, foi lançado pela Geração Editorial.
É resultado de dez anos de investigações de Amaury, um dos maiores especialistas em lavagem de dinheiro no Brasil. Atestei isso pessoalmente, quando investigamos juntos os negócios do presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Naquela ocasião, eu não entendia absolutamente nada quando o Amaury me falava sobre “empresa-ônibus”. Logo ele identificou, no caso de Teixeira, qual era a empresa-ônibus: a RLJ Participações, associada no Brasil à Sanud, baseada em Vaduz, no principado de Liechtenstein. A Sanud fez “empréstimos” à RLJ. Dinheiro que entrava nos negócios de Teixeira no Brasil. Na fazenda, em uma transportadora, no bar El Turf… Empréstimos que a RLJ nunca pagou à Sanud. Um caso clássico em que uma empresa de papel, baseada em uma caixa postal de um paraíso fiscal, existe exclusivamente para limpar dinheiro de origem duvidosa. É por isso que, quando a revista Piauí produziu um perfil de 478.576 palavras sobre Teixeira, sem citar uma única e mísera vez a Sanud, estranhei.
O livro de Amaury trata de questões espinhosas. Para os não iniciados, nem sempre é simples seguir o caminho do dinheiro.
O jornalista focou em alguns personagens importantes das privatizações e do PSDB:
Ricardo Sérgio de Oliveira, homem de confiança de Serra, ex-funcionário do Citibank, ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, que ajudou a ‘modelar’ a privatização da Telebrás e controlou, através de um aliado, João Bosco Madeiro da Costa, a Previ, Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, que teve um papel decisivo no processo; ex-tesoureiro de campanhas de Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
Gregório Marin Preciado, casado com uma prima de José Serra; representou a empresa espanhola Iberdrola na privatização da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia, a Coelba. É personagem de um milagre empresarial. Passou da falência à bonança graças a um tratamento extremamente ‘carinhoso’ do Banco do Brasil. Sócio de Serra na compra de um terreno em São Paulo, é vizinho da filha de José Serra, Verônica, em Trancoso, na Bahia.
Verônica Serra, “a mulher mais importante da internet brasileira”, segundo a revista IstoÉ Dinheiro. Amaury revela que Verônica foi indiciada… justamente por quebrar o sigilo fiscal alheio (acusação feita contra Amaury em 2010). O livro diz que a empresária mentiu sobre a Decidir.com, empresa em que foi sócia de outra Verônica, a Dantas. Num dos trechos mais saborosos, Amaury explica como o banqueiro Daniel Dantas usou a revista e Verônica para mandar um recado a José Serra.
Lembrem-se que os fundos de pensão, associados ao Citibank e ao Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, ganharam o leilão e o controle da Brasil Telecom, durante as privatizações. Em breve, um novo livro-reportagem, que não é de autoria do Amaury, deverá jogar mais luzes nas questões relativas a Dantas.
No livro, Amaury atribui a Ricardo Sérgio, banqueiro experiente, a “arquitetura” do esquema que internava dinheiro de origem duvidosa no Brasil, através de empresas baseadas no prédio do Citco, nas ilhas Virgens Britânicas.
Mesmo se não era esse o objetivo, Amaury acaba explicando, pelo menos em parte, o imenso poder de José Serra nas hostes tucanas. Deriva da centralidade que Serra, então ministro do Planejamento, teve no bater dos martelos da privatização durante a era Fernando Henrique Cardoso. Mas não apenas: de acordo com o jornalista, também deriva das relações de Serra com o submundo da arapongagem, como fica explícito no capítulo dedicado ao Doutor Escuta.
Amaury concorda que conseguiu apurar apenas alguns dos caminhos do dinheiro obtido pelos operadores da privatização. De qualquer forma, é um acréscimo considerável ao trabalho de outros jornalistas que se debruçaram sobre o assunto, como Aloysio Biondi, em O Brasil Privatizado.

Verdade...

 "O eleitor sabe o que quer, mas não sabe como consegui-lo. As pessoas não são idiotas, mas, no que tenha a ver com política e votos, são ignorantes, preguiçosas, deixam-se satisfazer rapidamente por qualquer resposta de ocasião, construída para acalmá-las e calá-las."


Jacob Hacker e Paul Pierson em o livro "A politica do Vencedor Leva Tudo".

sábado, 10 de dezembro de 2011

Sobre o livro "A Privataria Tucana" II


Por Luis Nassif

Fui ontem à coletiva do repórter Amaury Ribeiro Jr, sobre o livro que lançou.
Minha curiosidade maior era avaliar seu conhecimento dos mecanismos do mercado financeiro e das estruturas de lavagem de dinheiro.
Amaury tem um jeito de delegado de polícia, fala alto, joga as ideias de uma forma meio atrapalhada – embora o livro seja surpreendentemente claro para a complexidade do tema. Mas conhece profundamente o assunto.
Na CPI dos Precatórios – que antecedeu a CPI do Banestado - passei um mês levando tiro de alguns colegas de Brasília ao desnudar as operações de esquenta-esfria dinheiro e a estratégia adotada por Paulo Maluf. Foi o primeiro episódio jornalístico a desvendar o submundo das relações políticas, mercado financeiro, crime organizado.
No começo entendi os tiros como ciumeira de colegas pela invasão do seu território por jornalista de fora. Depois, me dei conta que havia um esquema Maluf coordenando o espírito de manada, no qual embarcaram colegas sem conhecimento mais aprofundado do tema.
Minhas colunas estão no livro “O jornalismo dos anos 90”, mostrando como funcionavam as empresas offshore, o sistema de doleiros no Brasil, as operações esquenta-esfria na BMF e na Bovespa, as jogadas com títulos estaduais.
Repassei parte desse conhecimento ao meu amigo Walter Maierovitch, quando começou a estudar esse imbricamento mercado-crimes financeiros e, depois, na cerimônia de lançamento do Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência).
Mesmo assim, persistiu a dicotomia na cobertura: jornalistas de mercado não entravam em temas policiais e jornalistas policiais não conheciam temas financeiros. E a Polícia Federal e o Ministério Público ainda tateavam esse caminho.
Aos poucos avançou-se nessa direção. A Sisbin significou um avanço extraordinário na luta contra o crime organizado. E, no jornalismo, Amaury Ribeiro Jr acabou sendo a melhor combinação de jornalismo policial com conhecimento de mercado.
Quem o ouve falar, meio guturalmente, não percebe, de imediato, sua argúcia e enorme conhecimento. Além de ter se tornado um especialista nas manobras em paraísos fiscais, nos esquemas de esquentamento de dinheiro, tem um enorme discernimento para entender as características de cada personagem envolvido na trama.
Mapeou um conjunto de personagens que atuam juntos desde os anos 90, girando em torno do poder e da influência de José Serra: Riolli, Preciado, Ricardo Sergio, Verônica Serra, seu marido Alexandre Burgeois. É uma ação continuada.
Entendeu bem como se montou o álibi Verônica Serra, uma mocinha estreante em Internet, naquele fim dos anos 90, com baixíssimo conhecimento sobre tendências, modelos de negócios, de repente transformada, por matérias plantadas, na mais bem sucedida executiva da Internet nacional. Criou-se um personagem com toque de Midas, em um terreno onde os valores são intangíveis (a Internet) para justificar seu processo de enriquecimento. Mas todo o dinheiro que produzia vinha do exterior, de empresas offshore.
Talvez o leitor leigo não entenda direito o significado desses esquemas offshore em paraísos fiscais. São utilizados para internalizar dinheiro de quem não quer que a origem seja rastreada. Nos anos 90, a grande década da corrupção corporativa, foram utilizados tanto por grandes corporações – como Citigroup, IBM – para operações de corrupção na América Latina (achando que com as offshores seriam blindadas em seus países), como por políticos para receber propinas, traficantes para esquentar recursos ilícitos.
Ou seja, não há NENHUMA probabilidade de que o dinheiro que entrou pelas contas de Verônica provenha de fontes legítimas, formalizadas, de negócios legais.
Ao mesmo tempo, Amaury mostra como esse tipo de atuação de Serra o levou a enveredar por terrenos muito mais pesados, os esquemas de arapongagem, os esquemas na Internet (o livro não chega a abordar), os assassinatos de reputação de adversários ou meros críticos. É um modo de operação bastante tipificado na literatura criminal.
No fundo, o grande pacto de 2005 com a mídia visou dois objetivos para Serra: um, que não alcançou, o de se tornar presidente da República; o outro, que conseguiu, a blindagem.
O comprometimento da velha mídia com ele foi tão amplo, orgânico, que ela acabou se enredando na própria armadilha. Não pode repercutir as denúncias de corrupção contra Serra porque afetaria sua própria credibilidade junto ao universo restrito de leitores que lêem jornais, mas não chegam ainda à Internet.
Ao juntar todas as peças do quebra-cabeças e acrescentar documentos relevantes, Amaury escancara a história recente do país. Fica claro porque os jornais embarcaram de cabeça na defesa de Daniel Dantas, Gilmar Mendes e outros personagens que os indispuseram com seus próprios leitores. (Só não ficou claro porque o PT aceitou transformar a CPI do Banestado em pizza. Quais os nomes petistas que estavam envolvidos nas operações?)
E agora? Como justificar o enorme estardalhaço em torno do avião alugado do Lupi (independentemente dos demais vícios do personagem) e esconder o enriquecimento pessoal de um bi-candidato à presidência da República?
Mesmo não havendo repercussão na velha mídia, o estrago está feito.
Serra será gradativamente largado ao mar, como carga indesejada, aliás da mesma forma que está ocorrendo com os jornalistas que fizeram parte do seu esquema.

Sobre o livro "A Privataria Tucana"


Por Rodrigo Vianna

“Nós estamos no limite da irresponsabilidade”. A frase – que virou símbolo do processo de privatizações conduzido pelo governo de FHC nos anos 90 – foi dita por Ricardo Sérgio de Oliveira, na época poderoso diretor do Banco do Brasil. Não foi dita para qualquer um. Ricardo Sérgio fez a “confissão” a Luiz Carlos Mendonça de Barros, o Mendonção, que presidia o BNDES. Logo depois, em 1998, o telefone de Mendonça caiu (!?) num grampo, e a frase de Ricardo caiu na boca do povo.

Ricardo Sérgio é o ponto de partida para entender o esperado “livro do Amaury”. Como diria Raul Seixas, Ricardo Sérgio é “o começo, o fim e o meio”.  É preciso entender quem é Ricardo Sérgio para compreender os negócios e negociatas narrados pelo jornalista.

O “livro do Amaury” tinha virado uma lenda urbana. Na eleição de 2010, Amaury se transformou – de forma involuntária – no pivô de um escândalo: a campanha de Serra (com ajuda da mão amiga da mídia) tentou fazer do jornalista (repórter premiado e respeitado pelos colegas) uma espécie de “araponga” a serviço do PT. Aos poucos, ficou claro que a investigação conduzida por Amaury durante quase uma década tinha começado muito antes da campanha eleitoral. Ele investigara os porões da privatização tucana, como repórter de várias publicações da “velha mídia”. E havia muita coisa estranha apontando para o entorno de José Serra. Em 2010, Amaury avisou: não existia dossiê nenhum para a campanha de Dilma, o que existia era apuração jornalística; e tudo isso ia virar livro.

Desde então, na internet, leitores questionam: cadê o livro? esse livro não existe? o Amaury blefou?

A resposta está aqui, na foto que mostra a capa do livro. “A Privataria Tucana”  chegou às livrarias nessa semana, como um roteiro que indica ao leitor: qual os caminhos e descaminhos do dinheiro das privatizações. O livro traz documentos, certidões, passa pelo Caribe, pelos arquivos da Justiça de São Paulo e da CPI do Banestado.

No livro,  há evidências apontando as estreitas ligações (coincidências?) entre Ricardo Sérgio e o círculo mais próximo de Serra: a filha Verônica, o genro Alexandre Bourgeois, e o primo de Serra Gregório Marín Preciado.

“A Privataria Tucana” precisa ser decifrado com cuidado. Há um volume gigantesco de informações e documentos. É preciso ler, reler, ir aos documentos reproduzidos no livro, voltar à leitura…

O cipoal de tenebrosas transações passa pelas Ilhas Virgens Britânicas. Ali, Ricardo Sergio mantinha há muitos anos empresas “offshore”. Amaury descobriu que, na mesma ilha e no mesmo endereço (um escritório no Citco Building), o genro de Serra abriu duas empresas offshores, logo depois das privatizações: a Vex Capital e a IConexa Inc. No mesmo endereço, ficava ainda a Decidir – empresa criada (originalmente com sede na Flórida) por Verônica Dantas (irmã do banqueiro Daniel Dantas) e Verônica Serra (filha do ex-governador José Chirico Serra).
Um dado curioso – e certamente ignorado pela maior parte dos leitores: o termo “offshore” tem origem na época da pirataria. Os corsários que se escondiam no Caribe preferiam esconder os tesouros (fruto de pilhagem) bem longe da praia e da costa (em inglês=”offshore”), para dificultar a localização pelos inimigos.  O livro de Amaury mostra que há algo em comum nos métodos dos piratas e dos privatas.

Boa parte dos documentos expostos no livro foi obtida por Amaury numa ação judicial em que era réu. Depois de escrever reportagem na revista “Istoé” com acusações contra Ricardo Sergio, Amaury fora processado pelo ex-caixa de campanha de Serra e FHC. No decorrer do processo, obteve a chamada “exceção da verdade”: instrumento judicial que possibilita ao acusado de calúnia ou injúria provar que é verídica a acusação feita. A decisão da Justiça obrigou a CPI do Banestado a entregar vários documentos a Amaury, o que facilitou o trabalho do jornalista na trilha do dinheiro das privatizações.
Entre os papéis liberados pela CPI, estavam documentos sigilosos agora reproduzidos no livro. Ali, estaria comprovado [faço a citação literal do que está à página 137 do livro]: “81% dos depósitos recebidos no exterior pela Franton Enterprises – do ex-caixa de campanha de José Serra, Ricardo Sergio de Oliveira – foram feitos pelo primo político de Serra, Gregório Preciado. Os dados são originários da famigerada conta Beacon Hill. Também nos papéis, a turbulenta situação das empresas de Preciado, os pagamentos que fez e aomissão de Serra diante da Justiça Eleitoral sobre sua sociedade com Vladimir Rioli”.

Ricardo Sérgio – do alto de suas posições no Banco do Brasil – teria ajudado a salvar empresas de Gregório Preciado. 

Vladimir Rioli é outro personagem importante. Foi sócio de Serra numa empresa de consultoria, e virou vice-presidente do Banespa (na época um banco estatal, pertencente ao governo paulista, controlado pelos tucanos). Curiosamente, Serra não declarou à Justiça Eleitoral, em 1994, a sociedade com Rioli. Por que? Rioli, segundo relatório da CPI publicado por Amaury, beneficiou as empresas de Preciado em operações financeiras estranhas.  Por isso tudo, é importante saber que Preciado teria depositado dinheiro em empresas “offshore” de Ricardo Sérgio…

Mas isso é apenas um detalhe, perto de toda a documentação exposta por Amaury. Ele mostra a sociedade de Verônica Serra com Veronica Dantas (irmã de Daniel Dantas, banqueiro que ganhou muito dinheiro no processo de privatizações) na empresa Decidir.com. Os documentos estão às páginas 190 e 191 do livro.

A leitura, como eu disse, exige tempo. E atenção.