quarta-feira, 28 de março de 2012

Indignação, nunca.

Por Mino Carta



The New York Times na segunda 5 publicou com destaque uma reportagem sobre a situação dos cidadãos brasileiros enxotados de suas moradias por se encontrarem no caminho das obras da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. A história não envolve somente o Rio, mas também outras cidades-sede do Mundial de Futebol. CartaCapitaldenunciou as remoções forçadas na edição de 20 de abril do ano passado. Poucos dias depois, a Relatora Especial da ONU, Raquel Rolnik, denunciou as autoridades municipais envolvidas na operação, que desrespeita a legislação e os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil para a defesa dos direitos humanos.
Já então a relatora apontava diversas violações, “todas de grande gravidade”. Multiplicaram-se de lá para cá, inexoravelmente. Maus-tratos generalizados, “zero dias” de tempo para deixar a moradia, 400 reais de “aluguel social” enquanto o enxotado espera ser contemplado por algum demorado plano de habitação. Antes do diário nova-iorquino, nos últimos tempos levantaram o assunto outros jornais e sites estrangeiros, como The GuardianEl País, o Huffington Post.CartaCapital voltou a tratá-lo em janeiro passado, com uma larga reportagem assinada por Rodrigo Martins e Willian Vieira, intitulada “Os retirantes das favelas” para focalizar, entre outros aspectos, uma das consequências das remoções forçadas.
E a mídia nativa? Não foi além de raros e ralos registros. Para saber das coisas do Brasil, recomenda-se amiúde recorrer à imprensa estrangeira. Ou melhor, seria recomendável o recurso. No mais, vale reconhecer, a mídia tem sido eficaz na manipulação das informações quando não na omissão dos fatos, de sorte a se fortalecer na convicção de que eventos por ela não noticiados simplesmente não se deram. É o resultado inescapável do conluio automático, tácito, instintivo eu diria, que se estabelece entre barões midiáticos e fiéis sabujos quando consideram ameaçado seu desabusado apreço pelo status quo.
Encarada deste ângulo, é mídia de mão única, daí a eficácia da doutrinação. E esta, de certa forma, transcende as expectativas, pois os próprios doutrinadores se tornam doutrinados, ao acreditarem, eles mesmos, na situação definida por aquilo que relatam ou deixam de relatar. Não é necessário espremer as meninges para perceber o quanto o Brasil emburrece, não bastassem as taxas de ignorância atingidas por nosso ensino em todas as suas instâncias. Este que escreve tem a frequente oportunidade de constatar que os nossos universitários, em diversos rincões, ignoram a história recente, e nem se fale da antiga, salvo surpreendentes exceções.
A aposta, no entanto, é esta exatamente, na ignorância da plateia, e nela se afogam em perfeita concomitância os jornalistas e seus patrões, em proveito do “deixa como está para ver como fica”. Certo é que o caminho das obras da Copa e das Olimpíadas se escancara com o sacrifício de incontáveis cidadãos para a felicidade de empreiteiros, políticos e quejandos. Quanto aos enxotados, disse cidadãos, mas terão eles consciência da cidadania? Vexado por uma opção fortemente populista, haverá quem consiga abrir os olhos para assistir ao assalto aos cofres públicos, de proporções nunca dantes navegadas. A maioria, entretanto, mais uma vez ou não enxerga ou se resigna, como se o enredo estivesse escrito nas estrelas.
A indignação não é uma característica dos humores verde-amarelos, genuína manifestação da alma brasileira. Aceitamos que Ricardo Teixeira permaneça incólume à testa da CBF, ou que as denúncias formuladas no livro do repórter Amaury Jr. a incriminarem José Serra candidato à prefeitura de São Paulo sejam letra morta, ou que a Operação Satiagraha seja sumariamente enterrada a bem do onipresente orelhudo, o banqueiro Daniel Dantas, aparentemente sem o menor abalo nos precórdios, ou apenas e tão somente porque privados das condições mínimas para entender o significado disso tudo.
Neste pântano a mídia nativa chafurda, em meio a uma pretensa redemocratização em um país que jamais conheceu a democracia, vincado por desequilíbrios sociais ainda monstruosos, incapaz de apagar de vez uma dita Lei da Anistia imposta pela ditadura e entregue a uma chamada Justiça destinada a proteger os ricos.

terça-feira, 27 de março de 2012

Eduardo e Mano Brown. Os principais personagens do RAP nacional.

Eduardo é a mente mais inteligente do RAP nacional.

Brown, apesar da habilidade com as palavras e de ser, ao meu ver, um poeta, não tem um terço do conhecimento intelectual que o Eduardo tem.

Brown conhece as conseqüências, mas tem a visão clichê da causa. Um discurso chavão.

Eduardo possui um rico vocabulário (o que só se adquire com muita leitura) e o principal para ser um MC: a visão do lado de dentro da periferia. Sabe na prática e no cunho teórico as conseqüências e a causa do descaso e da exclusão social e educacional.

Eduardo e seu parceiro Dum-Dum, assumiram, artisticamente, uma postura que resulta em aversão à sua arte. Sim, porque, acima de tudo, o RAP, seja ele como for cantado ou interpretado, é uma expressão artística.

Essa postura rotulada “violenta” causa um pré-conceito sobre o conteúdo das suas letras, e – arrisco dizer – um distúrbio sobre a conclusão e os objetivos das mensagens em cada música.

Quando se diz:

“Vejo o crucifixo tornando o oprimido pacífico. A fé em dose cavalar anula o espírito de guerra (...) só essa tese explica a ausência de um grupo guerrilheiro com bomba incendiaria pra libertação de presos. È um milagre o Carrefour não ser saqueado; as arvores do Ibirapuera não ter rico enforcado”.

Chegar à conclusão que usa-se metáforas e analogias, na letra acima, pra explicar a letargia de uma  população humilde e religiosa  para com essa exclusão e descaso social,  é preciso de um discernimento despido de qualquer agressividade irracional e possuir um senso critico racional para que não se confunda a agressividade expostas nas letras (que tem relação direta com a realidade urbana) com incitação ou apologia a tal.

De fato o que chama a atenção ao grupo Facção Central, a principio, é a postura violenta e agressiva com letras carregadas de “sangue” e “cadáveres”, mas o conteúdo intelectual que compõe essas letras – exclusivamente as do Eduardo – é algo que os diferem dos outros grupos de RAP do cenário nacional.