sábado, 26 de fevereiro de 2011

O fim do monopólio esportivo....


Cada clube esportivo detém direitos de imagem sobre seus jogos.
Para administrar seus interesses, anos atrás a Globo incentivou a formação do Clube dos 13, incumbido de negociar em bloco os direitos dos seus associados – maiores clubes nacionais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, grandes clubes recebem direitos de arena superiores aos pequenos clubes. Sob o argumento de que as condições brasileiras eram diferentes, a Globo conseguiu equalizar os direitos de transmissão – todos recebendo a mesma quantia, tática fundamental para transmissões pela televisão aberta, na qual não é possível o pay-per-view (pagar para assistir).
Se um clube com maior audiência ia reclamar, era encaminhado ao Clube dos 13, que tratava de demovê-lo de suas pretensões.
Mais ainda. Através de um contrato leonino, a Globo tinha uma cláusula de preferência, direito ao último lance em cada leilão de transmissão de campeonato. Ou seja, depois do último lance, ela tinha o direito de cobrir a proposta apresentada.
Esse modelo foi questionado no CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico). A Globo e o Clube dos 13 foram obrigados a assinar um termo de compromisso estabelecendo condições transparentes de disputa. Isto é, cada concorrente chegando com um envelope com sua proposta.
Em outros tempos, não haveria competidores. Apenas uma vez o SBT ousou competir, levando o Campeonato Paulista.
Agora, apareceu a TV Record dispondo-se a elevar o lance a R$ 550 milhões para a TV aberta.
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Após isso, como uma mera coincidência do acaso, Corinthians, Flamengo, Botafogo, Fluminense e Vasco, desfiliaram-se  do Clube dos 13, podendo assim, negociar os direitos de transmissão diretamente, eliminando o intermediador, já que, o mesmo, não dispõe mais dos benefícios que antes podia oferecer a grande emissora. 
Trocando em miúdos: Já que você não tem mais nenhuma vantagem para me oferecer, você não me interessa mais, por tanto, você é "carta fora do baralho".
Apesar de tudo, no modelo atual da licitação, a rede Globo (pelo histórico das relações com o C13) ainda tinha 10% de vantagem no leilão, ou seja, se uma outra emissora oferecesse 600 milhões de reais e a Globo 550, a globo ganharia e teria direito as transmissões.
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Ontem, em nota oficial, a Globo formalizou a sua exclusão das negociações com o Clube dos 13:
Os dirigentes efetivamente preocupados com os legítimos interesses dos seus clubes e, acima de tudo, os torcedores são testemunhas dos volumosos investimentos que a Rede Globo tem feito ao longo desses anos, numa parceria pelo aprimoramento do nosso futebol, na busca de um espetáculo emocionante, com profissionalismo e qualidade.
Essa contribuição tem se traduzido no crescimento das receitas dos clubes, não só através das receitas obtidas com a venda dos direitos de transmissão, bem como com a comercialização de outros direitos, incluindo propaganda nos uniformes e publicidade nos estádios.
As exigências e modificações nos conteúdos das plataformas implicam na desestruturação de um produto complexo, que foi construído ao longo dos últimos 13 anos, inviabilizando assim qualquer perspectiva de um retorno compatível com os investimentos na compra dos direitos.
As condições impostas na carta-convite não se coadunam com nossos formatos de conteúdo e de comercialização, que se baseiam exclusivamente em audiência e na receita publicitária, sendo incompatíveis com a vocação da televisão aberta que, por ser abrangente e gratuita, é a principal fonte de informação e entretenimento para a maioria dos brasileiros.
Assim é, em respeito ao interesse do público, que a Rede Globo se sente impedida de participar desta licitação e pretende manter diálogo com cada um dos clubes para chegarmos a um formato para a disputa pelos direitos de transmissão que privilegie a parte mais importante desse evento: o torcedor.
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Diante do exposto, o caso da rede Globo, do ponto de vista da audiêcia de outros programas da grade, é preoculpante. 
Os horários dos jogos do Brasileirão, sob os direitos de transmissão da Globo, eram adaptados com os horários dos outros programas da grade de forma estratégica.
Com uma outra emissora detentora dos diretos de transmissão dos jogos, mesmo que só de alguns clubes, poderá concorrer de forma direta com uma novela do horário nobre da rede Globo. Isso poderá ter um impacto negativo muito forte na audiência da emissora Global.
Claro que, tudo isso, depende de negociações internas depois de concretizada a licitação, pois só depois de estabelecidos os diretos as transmissões, é que será definida a tabela de horários dos jogos.
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Ensuma, mais um passo é dado para a democratização da mídia e o fim do monopólio das transmissões do esporte mais popular do planeta.

A bolha da Vale

Por Lilian Milena

...A China vive hoje um processo de boom imobiliário, em parte causado pela demanda que existe por casas. Estima-se que a China necessite de 68 milhões de casas por ano. Mas, boa parte das casas que estão sendo construídas é para o mercado de alto luxo, das quais a população média, simplesmente, não tem acesso.
Isso resulta na formação de uma bolha de acesso que, provavelmente, é o maior calcanhar de Aquiles da China, formada por apartamentos de luxo nas grandes cidades, como Pequin e Xangai, principalmente.
A China é um dos países com menor área agricultável do mundo. Apesar de ser grande, falta muita terra por lá, já que metade do território é deserto, ou ocupado por montanhas. Assim, a área urbana acaba praticamente em cima dos lotes agricultáveis. Por isso, os camponeses têm sido rapidamente expropriados de suas terras pelo mercado imobiliário.
Se olharmos a lista de maiores fortunas, de 2009, veremos que a China se tornou o segundo país, com maior número de bilionários do mundo – em primeiro lugar está os Estados Unidos e em terceiro a Rússia. Agora, se você olhar a lista dos 12 maiores bilionários, verá que oito são da área da construção civil.
Quando a agricultor [chinês] perde a terra, ganha uma indenização minúscula, equivalente a 1% do valor que vai ser pago [pelo imóvel que ali será construído]. Uma parte vai para o governo local, tanto para o orçamento quanto para o bolso de algum oficial. O resto do valor do imóvel vai para o empreendedor que construiu em cima daquela terra.
Essa criação de grandes fortunas, hoje na China, é um processo estranho, e o governo corre atrás de uma série de medidas para transpor esse modelo ocidental [de desenvolvimento].
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A Vale é um exemplo de gestão.
É a empresa de um produto só (minério de ferro), com um cliente só (a China).
E quando a bolha estourar.........

Vida vazia e covarde...

sex, 25/02/2011 – 09:37
alberto manoel ruschel filho
Finalmente, os burocratas descobriram que a dor dói. E descobriram também que apanhar – e ver gente apanhando em casa -, dói muito. Fizeram contas e mais contas. Foi difícil.
Deram milhares de telefonemas, “ E a Margareth, vai bem?”, tomaram cafezinhos, aprenderam a usar o Excel, desligaram o computador e foram pra casa.
Às cinco e vinte e cinco da tarde, no caminho, encontraram o colega de repartição na porta do restaurante, falaram de política, riram da novela e garantiram, “Dessa vez paguei o carnê antes, sem juros, que eu não sou bobo”
Nenhum deles ligou pro chefe que estava no trânsito e no ar condicionado, sorrindo, falando com a voz macia no celular por trás dos vidros pretos, elogiando o vestido da secretária, “Amei ele assim, soltinho! Acho que vou te dar um aumento.”
Funcionários e chefes estavam com todas as dívidas pagas. Ninguém devia nada pra ninguém.
No bar da churrascaria da moda, o Doutor pediu mais um uísque “Mais uma pedrinha de gelo! Uma só!”
Você e eu ligamos o computador, entramos no Portal do Nassif. Vimos os números e os desenhos, as linhas subindo e descendo “
Hoje não estou pra notícias de espancamento…”
Mudamos de matéria. Num já, saímos matando o mundo nos comentários.
Ficou tudo claro, resolvido; apanhar dói. Agora estamos todos bem informados sabendo que músculos e nervos, espremidos contra os ossos, dói muito. E a dor dá vontade de gritar.
Assim foi que, no Brasil, do Oipoqui ao Xuí, às cinco e quinze da tarde, milhares de crianças ouviram “Se gritá, apanha mais!”
E foram se encolher atrás da televisão.
Alguns, salvaram-se, saíram sem fazer barulho e nunca mais voltaram.
Os rostos sujos, as unhas pretas, os cabelos de fumaça de ônibus, as camisetas furadas do “Criança Esperança” e os olhos baços olhando pro horizonte de fuligem dessa meninada que prefere a rua, transformou-se num número
Pra fugir à dor, eles foram pra algum lugar sem dor e sem paredes, foram pras ruas correr entre as paredes dos prédios de Bancos entre os jardins das praças e carros de polícia.
Meninos e meninas gostam de correrias.
Eles não gostam de cheiro de pinga em boca de pai que não chega.
Não gostam de apanhar.
Não gostam de mãe chorando pelos cantos.
Mas as mães, também não.
Mãe que apanha, pra disfarçar, bebe.
Pra disfarçar que bebe, bebe mais rápido o licor da patroa.
Mãe que bebe rápido esquece o pano de prato no sofá, e perde o emprego.Quando chega em casa, apanha.
Moleque de shooping que come Mac é um “sem rua”?
O contrário de “de rua” é “de casa”?
Ah, sim!
Cada menino ou menina “de rua” que morre de fome, mata um adulto “de casa”!
Nem que ele não saiba que, desligando o PC, acabou de morrer mais um pouco sem ouvir "sem você, meu amor, eu não sou ninguém…"
Ninguém morre sozinho.
São cinco e quinze da tarde e os restos de um Mac foram jogados aos pombos.
Chove na capital.