sábado, 3 de setembro de 2011

O Banco Central e a confraria dos "juristas"


Por Luis Nassif
A decisão do Banco Central de reduzir a taxa Selic em meio ponto desmascarou pela primeira vez um dos mais deletérios e antigos personagens da vida econômica brasileira: a confraria dos "juristas", um grupo que inclui algumas consultorias econômicas, alguns economistas ligados a bancos, aliados a alguns comentaristas econômicos formadores de opinião na velha mídia, que nos últimos anos conseguiu se apropriar completamente da política monetária do BC.
Não se trata do mercado como um todo, mas de um grupo que jogou com informações privilegiadas, ganhando em cima dos demais segmentos do mercado.
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Vamos por partes.
O mercado futuro de qualquer ativo embute uma aposta e dois apostadores. Digamos que o preço futuro esteja em 100. O apostador que acha que o preço vai a 105 "compra" o contrato a 100; o que acha que o preço vai cair, "vende" o contrato a 100. Se o preço for a 105, o que "comprou" a 100 ganha a diferença de 5; o que vendeu a 100, perde a diferença. Portanto, há sempre um lado que ganha e outro que perde.
O ponto central desse jogo, a ser garantido pelas autoridades reguladoras (BC), é a isonomia das informações. Ou seja, todos os agentes têm que ter acesso às mesmas informações. A desobediência a essa regra caracteriza o "insider information", a informação privilegiada, tipificada como crime financeiro, obrigando à interferência do Ministério Público e da Polícia Federal.
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Nos últimos dias houve uma grita infernal da confraria dos juristas, sustentando que o BC tinha perdido a credibilidade, que não conseguiria mais articular as expectativas do mercado.
Como assim? Antes da reunião do Copom houve queda nas taxas futuras de juros, significando que o mercado, por maioria, havia assimilado os sinais do BC e apostado na queda de juros. Quem não apostou foi um segmento específico que poderia ter ganhado milhões caso o BC tivesse mantido a taxa Selic. E ganhado milhões em cima dos que achavam que a taxa ia cair.
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Por que essa minoria barulhenta achava que os juros permaneceriam imóveis, se a maioria do mercado, analisando os sinais do BC, apostava na queda? Porque essa minoria julgava ter informações que a maioria do mercado não tinha. Na verdade, sempre trabalhou com informações privilegiadas do BC.
No período de Henrique Meirelles, denunciei algumas vezes reuniões de diretores do BC com economistas de mercado. Não eram reuniões abertas a todo o mercado. Participavam dela o mesmo conjunto de economistas que têm maior vocalização na velha mídia, as fontes preferenciais, justamente aqueles que estão berrando contra a decisão do BC.
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Com a decisão do Copom desta segunda-feira, desnudou-se o jogo. Há o mercado em si e, nele, a confraria dos "juristas". E os ganhos desse pessoal se dava em cima dos demais agentes do mercado, baseados em informações privilegiadas que recebiam do BC. 
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Portanto, a partir de agora não se fale mais do "mercado" genericamente, nem de "porta-vozes". Todo esse coro de lamentações ouvido nos últimos dias ajuda a mapear os elos dessa confraria de "juristas".
Seria bom que autoridades em geral começassem a olhar com mais presteza esse jogo. 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Paulo Henrique Amorim

Na primeira página, o Valor anuncia a hecatombe universal.

Tombini cortou 0,5 ponto percentual da Selic porque há um “inquestionável” (sim, agora se usa adjetivo em “reportagem” de Economia …) desaquecimento da economia doméstica.

Além da “forte (sic) deterioração da situação externa”. 

Na primeira página da Folha (**) lê-se que o Banco Central agiu “sob pressão” (sic).

Qual ?

A irrelevância do PiG (***) ?

Contam amigos navegantes que, nesta quarta-feira, à noitinha, na rádio que troca a notícia, a CBN, a Urubóloga e um âncora gastaram 96 minutos da santa paciência do ouvinte com uma análise profunda sobre o que o Tombini ia fazer.

Erraram tudo.

Por que não esperaram a decisão que vinha a seguir ?

Não !

Eles sabem mais …

Na Folha (**), ainda, na segunda página, se sabe que não há explicação possível para o gesto irresponsável do Tombini: ele cedeu à pressão (vai ver que essa é a “pressão” …) política (só pode ser da Presidenta).

Quando o Henrique Meirelles, que foi presidente mundial do BankBoston e, ocasionalmente do Banco Central, aumentou os juros, no auge da crise do banco Lehmann, em 2008, ninguém disse que ele agiu “sob pressão” dos pares – os banqueiros.

Clique aqui para ler “A Presidenta avisou: corta que os juros caem”, onde há referência a uma “traição” do Meirelles descrita pelo Delfim.

O que Tombini deixou claro, primeiro, é que não fez nem pretende fazer carreira em banco privado.

Segundo, que, de fato, o esforço que o Governo Dilma faz para cortar gastos vai dar certo.

E, terceiro, que “o jornalismo de Economia no Brasil não é uma coisa nem outra”.

A frase é do Delfim, mas ele nega peremptoriamente.


Paulo Henrique Amorim