segunda-feira, 14 de março de 2011

Nova era da Política Brasileira

Por Luis Nassif


Rapidamente vai se esboçando o novo tempo na política brasileira.


Há ainda pólvora no ar, resquícios da campanha eleitoral mais suja da história. Há setores que ganharam proeminência com a radicalização e não querem abrir mão do espaço conquistado. É muito mais um estado de espírito latentes do que radicalismo institucionalizado.


Institucionalmente, caminha-se para um novo arranjo, preparando a era pós-Lula.


Com exceção do inacreditável O Globo, os jornais deixaram de lado a extrema parcialidade e a briga com os fatos que caracterizaram os últimos anos. A operação detente de Dilma ajudou a baixar a fervura.


Toda a guerra contra Lula se baseava em questões pontuais, a maior parte irrelevante, a regulação da mídia – dramatizada pelos jornalões como ameaça à liberdade de imprensa -temas da guerra fria, Irã, enfrentamentos verbais, baboseiras em relação à suposta influência de Chávez e de Cuba, um discurso pré-64 requentado.


Todo esse conjunto de críticas espelhava uma realidade tão vaga e distante, que bastaram o fim das eleições e os primeiros acenos de Dilma para esvaziá-lo.


O desarmamento de espíritos, ainda que apenas provisório, fechou um ciclo. Agora se inicia outro, ainda incipiente, com os primeiros movimentos ainda não permitindo avaliar o desenho final.


Do lado do governo, Dilma Rousseff e uma frente ampla de centro-esquerda. Do lado da oposição, Geraldo Alckmin, em São Paulo, Aécio Neves, no Brasil, assumem virtualmente o controle do PSDB. Correndo por fora, a estrela de Eduardo Campos, do PSB.


O DEM patina, nem sei se sobreviverá. Mas as teses em pauta mostram uma visão de futuro impensável antes do fim da era FHC-Serra.


Até então, a oposição estava presa à herança de FHC, que deveria ter sido enterrada nas eleições para governador em 2008. Acabou sobrevivendo como um ectoplasma solto no ar por falta de visão de futuro dos chefes da oposição – especialmente José Serra e Aécio Neves – e apego ao passado do seu único ideólogo FHC. Aliás, seria demais exigir de FHC que enterrasse sua própria obra.


Libertos desse passado, a análise dos caciques do DEM é a de que a inclusão social criou uma nova classe média. Não adianta pretender disputar essa nova classe, hoje, ainda mais com a lembrança de Lula viva no imaginário popular. Mas daqui a alguns anos essa nova classe estará estabilizada, parte dela com anseios de crescer mais e, por isso mesmo, tendendo a uma posição mais conservadora.


A disputa por ela se dará lá na frente, mas os preparativos devem ser desde já. Tanto a ação do governo Dilma quanto a da oposição terá que ser pautada pela expectativa de disputa do novo eleitorado – mas imaginando a cabeça que tiver daqui a quatro ou oito anos – e a preservação do espaço junto ao eleitorado convencional.


Provavelmente o DEM não viverá para assistir a esse futuro. Mas essa bandeira estará disponível para o partido que se oferecer para ocupar esse espaço.


Mais importante que os partidos são os temas da futura disputa. O enfoque básico passa a ser o atendimento das demandas da população. Para tanto, os partidos precisarão ser programáticos, ter idéias claras, não os arremedos de propostas apresentados nas últimas eleições.


Gradativamente, o país começa a se livrar da maior ameaça que enfrentou para conquistar o futuro: a radicalização eleitoral. E começa a desenhar uma oposição, fundamental para o próprio equilíbrio nas ações de governo.


Haverá novas guerras pela frente. Mas em cima de uma base institucional mais madura, mais nítida e mais flexível - permitindo uma distribuição mais clara das tendências políticas pelos diversos partidos.

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