terça-feira, 15 de março de 2011

DEM quer conquistar a classe C

Por Luiz Carlos Azenha do Viomundo
Os leitores deste site se dividem, ou pelo menos se dividiam, entre aqueles que acreditam que em seus dois mandatos o presidente Lula optou por não politizar o eleitorado, ou seja, fugiu dos embates que poderiam contribuir para tal politização. Teria sido assim, por exemplo,  nos casos da demissão do diretor da ABIN, Paulo Lacerda; da implementação das decisões da Conferência Nacional de Comunicação e do Plano Nacional de Direitos Humanos. Por motivos eleitorais e por não ter maioria sólida no Congresso, Lula teria optado por “comer pelas beiradas”, justificam os lulistas.
Outros dizem que o simples fato de Lula ter promovido ascensão de milhões já mudou a sociedade. Argumentam que isso deu uma nova dimensão social aos beneficiados, que aos poucos passariam a exigir  direitos plenos de cidadania, o que seria em si um grande avanço.
Há, porém, os que apontam para o chamado fator Berlusconi: um eleitorado cujo principal objetivo é consumir quer mais é se afastar de sua origem, descartar suas marcas de nascença (de classe) e ingressar no maravilhoso mundo da Globo e da Veja. Ou seja, à ascensão econômica seguiria uma pretensa ascensão cultural, cuja aparente consequência no Brasil de hoje é a disseminação do country universitário, das siliconadas e dos tatuados, que copiam tudo o que aparece no BBB. A partir daí votar no DEM exige, convenhamos, um pequeno passo.
Por este raciocínio, os filhos dos beneficiários do Bolsa Família seriam os primeiros a negar apoio político ao programa, mimetizando as opiniões da classe média à qual pretendem pertencer de corpo e alma.
Como a negação da política é uma ferramenta muito utilizada pelos que não conseguem ganhar eleições, me parece que a opção do DEM se encaixa perfeitamente neste último raciocínio: a cobrança por “eficiência administrativa” descolada da política.
Vejo, no entanto, alguns problemas na proposta de reencarnação do DEM. Um deles: os esqueletos no armário do partido, que se posicionou oficialmente contra alguns dos projetos sociais de Lula, como o Prouni.
E mais: uma parte razoável dos eleitores de Marina Silva foi de jovens entusiasmados com as propostas dela e descontentes com a “velha política”, na visão deles representada pela dicotomia PT-PSDB. Dificilmente este eleitorado, que é idealista e ligado ao futuro, vai se identificar com grandes líderes da juventude como Agripino Maia.
Finalmente, pelo que leio aqui e ali, a proposta de Dilma Rousseff, de olho em 2014, seria ocupar espaços à direita, deixando os espaços à esquerda por conta de Lula. Se for verdade, o Brasil teria dado mais uma contribuição à Humanidade, além da jabuticaba: um governo de centro-esquerda que governa como se fosse de direita com o objetivo de ganhar eleições em 2014 como se fosse de centro-esquerda. A correlação de forças recomendaria a tática. Deve ser por causa da avassaladora maioria que PSDB e DEM conquistaram no Congresso…
Seja como for, como saímos do campo dos princípios para o eleitoralismo puro e simples — com Kassab se posicionando à esquerda, por exemplo –, acho que o DEM corre o risco de encontrar o caminho para a classe C congestionado.

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