terça-feira, 20 de setembro de 2011

Para onde caminha o setor financeiro


Por Luis Nassif
Ontem participei da palestra da Semana Secovi (Sindicato das Empresas de Construção Civil de São Paulo).  Junto com o presidente do banco Itaú, Roberto Setubal, o desafio foi prever para onde caminhará o setor financeiro nos próximos anos.
Historicamente, a mobilização do grande capital sempre foi fundamental para saltos ou tentativas de saltos na economia brasileira. O primeiro banqueiro a entender esse dinâmica foi o Barão de Mauá, no século 19. O país que aparentemente não dispunha de capitais, na verdade possuía uma enorme poupança ou empoçada nas casas das pessoas ou desviadas para a praça londrina – de onde retornavam de tempos em tempos na forma de capital externo.
p>Mobilizando essa poupança, o Barão logrou iniciar o processo de industrialização brasileiro.
No alvorecer da República a ambição pessoal desmedida de Rui Barbosa – primeiro Ministro da Fazenda de Deodoro – jogou fora a oportunidade de acelerar a industrialização brasileira através do mercado de capitais e do sistema bancário.
Mais tarde, nos anos 30, esse grande capital foi fundamental para acelerar a industrialização np período Vargas. Mas só após uma crise cambial que obrigou o governo brasileiro a restringir a livre movimentação de capitais. Sem espaço para ganhos especulativos fáceis, o capital caiu na economia real, indo capitalizar bancos comerciais e ajudando no processo de substituição de importações.
No pós-guerra, a capacidade de organizar a poupança interna sempre foi vista como fator essencial de progresso – das incursões de Nelson Rockefeller aos estudos de Albert Hirschman (que serviram de inspiração para o pensador brasileiro Ignácio Rangel).
Esse grande capital se formou, na maioria das vezes, através de jogadas no mercado de dívida pública e de dívida externa brasileiros. Informações privilegiadas, conhecimento das praças internacionais permitiram a financistas mais espertos acumular capital que, depois, ajudou na reciclagem da economia brasileira.
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No pós-guerra, a ideia de desenvolvimento era entendida como de um movimento de equilíbrio, no qual todos os fatores nacionais deveriam se desenvolver simultaneamente. Incumbido pela ONU de estudar o modelo colombiano, Hirschman constatou que o país tinha grandes vulnerabilidades tornando impossível esse desenvolvimento equilibrado.
Sua recomendação foi a de eleger alguns setores com maior dinamismo, montar uma política econômica desequilibrada mesmo, que favorecesse a acumulação de capital e esses setores, depois, puxariam os demais com ele.
Essa tese foi inteiramente endossada por Rangel, que defendia a ideia de que faltava ao Brasil, para desenvolver-se, permitir ao setor financeiro ganhar musculatura, sem as restrições de políticas ortodoxas para enfrentar a inflação.
O fracasso do Plano Real, no campo do desenvolvimento, decorreu da importação pura e simples dos princípios de Hirschman por Fernando Henrique Cardoso. Julgava ele que o desenvolvimento viria meramente cobrindo de favores os novos bancos de investimento – através de política de câmbio e juros e privatização – e depois deixar o desenvolvimento por sua conta.

miopia de FHC - 1

Com seu conhecimento exclusivamente teórico de desenvolvimento, sem capacidade de analisar o mundo real, FHC não se deu conta de que o Brasil de 1994 não era a Colômbia dos anos 50. Possuía uma estrutura industrial potente, um legado de inovação e tecnologia, experiências com PMEs (pequenas e micro empresas), know how em políticas sociais e, principalmente, um mercado de consumo potencial extraordinário.

A miopia de FHC - 2

FHC cobriu o setor de favores, criou uma dívida pública monumental (a contrapartida dela foram os ativos que caíram no bolso dos rentistas), mas não gerou as condições na economia para que esse recursos viessem irrigar o desenvolvimento. Eles ficaram rodando em mercados especulativos ou na renda fixa, sem irrigar a reestruturação produtiva da economia brasileira. Acomodou-se no lucro fácil.

Os novos tempos

Quase vinte anos depois, tem-se um mercado de capitais maduro, novas formas de investimento e crédito, um sistema bancário sólido, embora ainda cobrando taxas exorbitantes e um mercado de consumo de massa. Tem-se ainda grandes gargalos ajudando na aplicação desses recursos, já que gargalos são demandas não atendidas. Tem-se todos os elementos para, finalmente, trazer o grande capital para o esforço de desenvolvimento.

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