domingo, 26 de junho de 2011

O câmbio e a desindustrialização

Do Valor
Marcelo Mota | Do Rio 
O abalo causado no saldo comercial do país nos últimos anos pode ser o mais simples dos danos provocados pelo real valorizado. Em encontro promovido, ontem, pelos Conselhos Regionais de Economia (Corecon) dos quatro Estados do Sudeste, economistas fizeram um alerta: o câmbio está minando a industrialização do país.

"Estamos tendo uma perda de competitividade cambial, que leva a um processo gradual de desindustrialização", disse o professor da PUC de São Paulo, Antonio Corrêa de Lacerda. O estrago já é evidente sobre fabricantes de semicondutores, produtos farmacêuticos e máquinas e equipamentos, que, segundo ele, respondem pela maior parte de um déficit comercial de US$ 65 bilhões, no ano passado, se analisada somente a pauta de itens de alta ou média tecnologia.
Para Eduardo Costa Pinto, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o risco é que esse efeito fique camuflado por um saldo em transações correntes financiado também por capital de investimento de curto prazo, além das compensações obtidas com a venda de commodities. "Fechar a conta vai ser fácil. O problema é de médio prazo."
Segundo o diretor do Departamento de Competitividade Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Alexandre Comin, "a penetração dos importados na economia brasileira é veloz, ampla e profunda". Há cerca de um mês e meio no ministério, ele levou ao encontro uma versão atualizada de sua tese de doutorado, na qual chamou a atenção para uma estimativa que aponta para salto de 44% no consumo de manufaturados importados no país, em cinco anos.
Entre 2005 e 2010, a penetração média dos importados foi de 13,5% para 19,4% do total consumido internamente. Entre os eletrônicos, a importação já respondia por 35,8%, em 2010. Em contrapartida, o Brasil só abre espaço no exterior com agrícolas, minerais ou combustíveis, de baixo valor agregado. Nem ele, nem os outros economistas presentes acreditam que o peso negativo do câmbio possa ser compensado com ganhos de produtividade.
"A correlação mostra que a exportação acompanha o câmbio", disse Comin, ao mostrar gráfico com série de 1989 a 2010, na qual os dois indicadores cumprem sempre a mesma trajetória, com pouco ou nenhum descolamento. Comin afirmou que o governo tem pouca margem de manobra com tarifas para conter a penetração crescente dos importados, devido a compromissos com a OMC.

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Em suma, a queda nas exportações de manufaturados é camuflado, na balança comercial, pelo consumo desenfreado de commodities e entrada de capital externo através de investimentos de curto prazo.


A médio e longo prazo é preocupante, a perda de competitividade das indústrias brasileiras.


Não fosse o poder de consumo do mercado doméstico - decorrência das políticas de equidade da renda nos últimos anos - a situação estaria caótica com certeza.

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