domingo, 19 de dezembro de 2010

A Arte Desinformativa de Relacionar Acontecimentos

Reprodução do post do Blog do Nassif


Autor: 
 
Por Luiz Lima
Amig@s,
Na Espanha, assim como no Brasil, a manipulação de notícias tornou-se rotina na "grande" imprensa. Vejam este artigo, publicado aqui, cuja versão em português dou abaixo.
Boa (?) leitura a todos. 
A Arte Desinformativa de Relacionar Acontecimentos
Por Pascual Serrano
Estabelecer ou insinuar uma relação direta entre dois acontecimentos pode ser uma forma de manipulação informativa. Recentemente, os jornais espanhóis ABC El Mundo foram objetos de críticas por relacionarem uma morte por doença cardíaca no Aeroporto de Madri à recente greve dos controladores de voo: "Meu pai morreu num banheiro de Barajas devido à greve dos controladores", mancheteou o ABC. Por sua vez, El Mundo trazia a notícia à primeira página, intitulando-a “Por causa desses desavergonhados, meu pai morreu longe de sua família”, com direito a uma foto em três colunas da filha com a foto dos pais nas mãos.
Ao ler a notícia, descobrimos que a filha do falecido reconhece que os controladores “não assassinaram o meu pai, porém se não tivessem feito o que fizeram e o destino de meu pai fosse esse, tudo haveria ocorrido em casa, e ele estaria rodeado por seus familiares”. Acrescenta que "não sabemos se o tumulto ocorrido no aeroporto pôde afetar a sua saúde". Mesmo assim, as notícias, mediante a justaposição dos eventos, fizeram passar a ideia de que os controladores foram, praticamente, responsáveis pelo que sucedeu. A seguir este raciocínio, quem sabe não morreu alguma pessoa separada de sua família por conta da suspensão dos voos da empresa Air Comet, de propriedade do grupo espanhol Díaz Ferrán.
Ainda que este caso de manipulação tenha sido bastante divulgado, em 16 de dezembro passado tivemos outro, similar, mas que passou despercebido. Tratava-se do modo como El País noticiou um dos telegramas de WikiLeaks. A notícia: “Chávez facilitou a fuga de membros do ETA na Venezuela, segundo o ex-diretor do CNI”. (NT: a notícia foi veiculada no Brasil, com idêntico teor, pelo “Globo” na mesma data.) De concreto, ocorreu tão-somente o fato de o ex-diretor do Centro Nacional de Inteligência (CNI) da Espanha, Jorge Dezcallar, ter sido obrigado a esperar por três horas na ante-sala do presidente da Venezuela antes de ser recebido por este. Mas o diário espanhol se serve do acontecido para iniciar seu relato da seguinte forma:
 “Hugo Chávez hizo esperar durante horas en la antesala de su despacho presidencial en Caracas al ex director del Centro Nacional de Inteligencia (CNI), Jorge Dezcallar, para ganar tiempo y facilitar la huida de varios miembros de ETA refugiados en ese país , autores de 36 asesinatos y reclamados por la justicia española, según se asegura en un cable confidencial del Departamento de Estado de EE.UU.”
A relação entre a espera e a fuga de três etarras, dos seis procurados pelo CNI, é uma conclusão totalmente arbitrária. O diário chega a ela (e a mancheteia) porque o Departamento de Estado (doa EUA) ecoa o que foi dito pela alta autoridade do CNI. Por outro lado, não se sabe porque os outros três membros do ETA foram presos, afinal. O próprio telegrama assinala que o agente do CNI reconhece que “quando finalmente pôde fazer sua petição, Chávez a aceitou de pronto”.
É completamente absurdo responsabilizar um chefe de Estado pela fuga de procurados da Justiça que o próprio mandatário aceita entregar, só porque foi necessário esperar algumas horas para ser recebido. Suponhamos que à saída da reunião o Sr. Dezcallar fosse atropelado por um ônibus. A manchete teria sido que Chávez o entreteve de forma a fazer coincidir sua saída com a chegada do ônibus.

Nenhum comentário: