domingo, 11 de setembro de 2011

Os pobres e os pobres,cegos e surdos



Por Fernando Brito

Nos dias atrás, a revista inglesa, The Economist, mostrando com que país, cada estado brasileiro, tomado isoladamente, se parecia em matéria de Produto Interno Bruto, renda per capita e população. O resultado foi escandaloso.
Será que diante de contrastes tão gritantes, as nossas elites continuaram achando que este país pode ir em frente sem corrigir o que já não é nem mesmo um desequilíbrio, mas um ato, literalmente, de desamor ao próximo?
Sim, porque há gente que continua achando que o “zé povinho” das regiões atrasadas deste país pode continuar lá, largado, abandonado, sem que isto inviabilize a existência dos próprios centros desenvolvidos do Brasil?
Volta e meia, porém, este sentimento mesquinho e, sobretudo, burro, aflora nas páginas dos nossos jornais.
Outro dia mesmo, a Folha de S. Paulo tratou o fato de a economia nordestina estar crescendo a taxas superiores à média nacional como se isso fosse um simples arranjo político eleitoral do atual governo. Ora, se o Nordeste não crescer mais do que a média, como é que a desigualdade vai diminuir?
E é pouca, ainda, a vantagem que o Nordeste está tendo em relação às outras regiões. Publiquei, outro dia, o cálculo do IPEA de que, mesmo no ritmo atual, a renda média do nordestino só chegará a ser 75% da renda dos habitantes do sudeste no longínquo ano de 2074.
É uma cruel tradução estatística dos versos de João Cabral de Mello Neto, em Morte e Vida Severina, de que a cova é a “terra mais ancha que terás no mundo”.
Pobre gente. Muito mais pobre do que aqueles lá, que sofrem com o atraso e a pobreza. Pobre, porque perdeu a virtude humana do amor.
Pobre e cega, porque não vê que deixar milhões de seres humanos, ali, do seu lado, se degradarem na miséria é, sem nenhuma dúvida, condenarem a si mesmos a viver em um mundo selvagem.
Pobres, cegos e surdos. Porque nem mesmo conseguiu entender a lição poética de Antônio Carlos Jobim, de que é impossível ser feliz sozinho.

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